Maria
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Vôo dos Pássaros (II)
"Maria, amiga muito preciosa!
Agradeço, mais uma vez, a tua imensa bondade em perder tempo com a minha obra e o método que recomendo.
Estou muito feliz, pois cumpro a minha parte: o provocador!
Não terço armas, porque só sei procurar a poesia e o amor (estética) vai se construindo. Isto se dá a alguns anos...
Tua zanga te faz bem. Vejo que pensas pra dizer o que te vai. Estás muito mais solta. Isto significa que já temos intimidade intelectual.
O que fazer se sou, apenas, um escultor que vai tirando, desbastando a pedra bruta que sou?
Quem tem a possibilidade de inspirar-se a cada vez que surge o poema é um felizardo! Por isto, nunca poderei falar a tua linguagem... Tu és uma predestinada: deixarás obra vasta "a vôo de pássaro". É só bater asas e a obra está feita. Sinto que trato com um criador privilegiado - e te agradeço a experiência. Parece-me que um espírito desce e toma a tua aura espiritual. Quer bom que eu pudesse ser assim. Tiro leite de pedra, por me faltar este talento. Honra-me ser a antítese. Digo-te isto do fundo do coração.
Estamos crescendo juntos... Só não somos xifópagos, gêmos siameses. Já nascemos e pensamos diferentemente. Que bom isto! - o que seria do verde se todos gostassem do vermelho?
Peço que continues a me querer bem.
Beijos do poetinha JM."

Amigo, preciso dizer que tuas palavras me levaram às lágrimas. Acho que agora me entendeste. E sinto que a guerra acabou.

Finalmente compreendeste que eu Maria, sou uma Joana que é diferente - graças a Deus -, muito diferente de uma Anita, que eu Maria, sou um José que é diferente - e graças a Deus -, muito diferente de um Joaquim. Entendes? Creio que é isso que disseste que me acontece.

Eu nunca estudei mais do que o essencial. A cultura que tenho (se a tenho) adquiri sozinha, nas linhas dos livros que li na adolescência. O conhecimento me veio da mesma maneira, na mesma época. Depois, nestes vinte anos, nunca mais tive tempo de pegar numa folha de papel para ler ou escrever. Minha escola para aprender a viver é a própria vida.

Mas quando escrevo... Então eu me transformo. Sou outra dentro de mim. E me vem à boca palavras que usualmente não penso e não sei. Sei que hoje elas vêm do sol, elas brotam das palavras do poeta medieval que devoro todos os dias.

Mas as emoções essas são minhas. Os sentimentos, esses, são meus. E muitos, talvez já tinha dentro de mim e não sabia.

Pensamentos e sentimentos que por vinte anos ficaram aprisionados no fundo do poço do meu coração, mas que no tempo do tempo, estavam ali há muito mais tempo do que duas décadas apenas.

São sentimentos e pensamentos que foram nascidos comigo, há séculos e séculos, depositados quietos e calados, esperando o dia em que o poeta viria e abriria a tampa do poço e tiraria forçadamente os primeiros baldes de água, para então eu me acordar e fazer deste poço uma cachoeira de palavras.

Porque e como isso acontece eu não entendo muito bem, mas cada dia eu desejo ser como aquele que abriu a tampa do poço e teve a coragem de olhar para o fundo, para a escuridão e enxergar o pequeno brilho da água que lá nas profundezas se escondia.

Se isso é um dom, um talento, um presente, quem deve dizer é a própria vida.

Mas eu sei que já não posso mais manter a água fechada. Hoje ela é como as corredeiras de um rio e despenca de meus lábios como cachoeira bravia... Não há mais como segurá-las. Sua força é maior do que a minha própria e eu precisaria morrer de verdade para poder calar o estrondo dessas torrentes.

E quanto maior a emoção e quanto maior o desafio, mas rápidas ficam minhas mãos, mais necessidade sente minha alma de se libertar do que a faz sofrer essa emoção. Seja zanga ou seja dor, seja ódio ou seja amor.

A paixão está posta e não há mais como viver sem vê-la e sentir.

Castigo? Dom? Talento?

Acho que já é a herança. A herança do espírito do poeta que um dia me está prometido herdar.
Maria
Enviado por Maria em 06/06/2008
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