Maria
Prosa e Poesia
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Textos
Minha Mãe e Mãe dos Meus Filhos
Mãe em teus braços
Eu quero tua criança
Sempre ser.

Esse é meu pedido mãe
Neste dia de festa
Dedicado à você.

Que saudade sinto de você.
Do azul transparente dos seus olhos
Que trocaria pelos verdes meus
Da tua pele amorenada
Que eu sempre quis igual
Teus negros cabelos cacheados
Onde mergulhava minha carinha
Cheia de sardas e cabelos cor de fogo.

E quantas vezes chorei por ser assim
Tão diferente de sua cor e seu jeito de ser.
Queria tanto ser um anjo moreno
Por quem o pai se apaixonou.

E você me consolava maezinha
Mostrando um quadro na parede
Onde um anjo loiro, de enormes asas
Protegia duas lindas criancinhas
Que atravessavam uma ponte
Sobre um rio muito violento.

Todas as noites olhava o quadro
E pedia: "Santo Anjo do Senhor
Meu zeloso guardador
Me guarda, lumina, amém".

Hoje já não falo mais com o anjo, mãe
Mas descobri que posso chegar
Assim como sou, do jeito que sou
Com quem sou, direto no próprio Pai,
E ele me ouve, me guarda, lumina.

E mãe, falando ainda de teus cabelos
Quando era pequenininha,
Achava teus cabelos negros tão longos
E pensava que podia me pendurar neles
Prá balançar em traquinagens de alegria.

E quando me pedia
Prá fazer tuas tranças
Me sentia a menina
Mais feliz do mundo.
Me sentia importante
Me sentia você mãe
À fazer as minhas
Antes de ir para a escola.

Lembro quando você
Costurava prá mim
Lindas bonecas de pano
E de lenço na cabeça
Amassava o pão de trigo
Ou de milho para assar
No forno de tijolos
Lá do fundo do quintal.

O cheirinho do pão assado
Era tão bom, tão gostoso
Que posso sentí-lo ainda no ar
Mesmo passados quase 80 anos.

E agora ao lembrar mãe
Os olhos enchem de lágrimas
Só em imaginar, só em pensar
Da importância e beleza
Daquele momento
Prá minha vida de criança.

Lembro de você maezinha
Lavando a roupa na pedra do rio
Como achava lindo esse momento
Mas hoje quando lembro,
Mãe, como devia ser sofrido.

Quem pode saber quantas dores
E sofrimentos você passou?

E quando você ia buscar água
Num balde de alumínio tão brilhante
Lá na vertente da beira da mata.
Era tão fresquinha essa água
Tão deliciosa que até hoje sinto
Seu sabor e frescor.

E hoje, mãe, a gente,
Tem tudo na mão
E às vezes nem dá valor.

Mãe querida,
Quantas vezes me perguntei
Porque você, de vez em quando ficava
Quieta, sentadinha na varanda
E seus olhos pareciam olhar o vazio
Olhar o nada, tão contemplativos.

Ficava imaginando
O que você pensava
Se estava triste,
Se era eu a causa
Desse silêncio.

Tinha medo desses momentos
Em meu interior achava
Que algo muito importante
Iria acontecer, e tinha medo
Medo de tanto não poder ver
O que se passava dentro de ti.

Hoje mãe,
Faço a mesma coisa
Fico lá, quietinha,
Encolhidinha,
Contemplativa
Em completo silêncio.

E é tão bom.
Sinto a vida
Fluir dentro de mim
Em meu sangue.
Em meu espírito
E explodir
Em luzes de alegria.

Hoje compreendo você,
Não era tristeza maezinha,
Era só tua alma que se elevava
Às alturas dos céus
Navegando serena
Por entre as estrelas
Como uma delas,.
Para falar com Deus
Sobre mim,
E agora eu,
Sobre meus filhos,
Os netos teus.
Maria
Enviado por Maria em 14/05/2006
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