Maria, sabe porque não me encontrou por onde procurou-me? No céu, no inferno e na terra não achou-me?

Porque não procurou dentro de você. É lá que estou. Tão pertinho. E falando com você, estará falando comigo. E falando comigo, estará falando com você.

Meio confuso não é? Mas se não fosse, não seria eu, Maria, pois ser mais enrolado do que esse nunca vi.

Quando nasci a uns seiscentos anos atrás, nasci enrolada em fios dourados que puxaram-me para um mundo que nunca tinha visto.

Minha mãe, que pariu-me, explicou-me os primeiros passinhos, segurava-me pelas mãos e assim fui aprendendo a andar. Um dia ela soltou minha mão e andei sozinha pela primeira vez.

Impressionei-me pelo mundo novo que estava vendo. Recebi muitas visitas, fiz novos amigos. No início retribuia todas as visitas, hoje já não consigo mais fazer isso. Tento fazer num dia só. Mas cada vez alguns amigos vão ficando para trás.

É assim a vida? Sem falar que enrolei-me em mim mesma várias vezes. Por isso se quer falar comigo Maria, olhe para dentro de você e chame:

- Ei, você! Você que está aí toda enrolada em meu coração, preciso falar com você.

Então eu falo comigo mesma, pergunto-me e respondo-me.

E o diálogo explodirá em luzes esplendorosas.