Maria
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Enraizado
Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo. (Pablo Neruda)

Foi assim. Foi assim... Que você foi chegando e ocupando lugar no meu coração. Assim, bem de mansinho, devagarinho, foste tocando cada parte de meu ser até mesclar-se a ele. Há séculos já estavas ali e eu ainda não te via, não percebia. Mas, já te sentia. E quando te vi... Ah! Quando te vi... foi naquele dia... em meio as folhas amareladas dos plátanos. Foi ali, sob a copa frondosa daquela árvore que me veio à mente o amor dos sozinhos e a lua à roçar a montanha. E então foi como se as portas de um imenso mundo se abrissem para mim. E vi você. E vi a mim. E descobri meus sentimentos mais íntimos. E descobri você. Descobri que esse mundo que agora se abria diante dos meus olhos acontecia dentro de mim. Já há muito tempo. Eu precisava agora descobrir como me apropriar dele. Mas esse não era o primeiro passo. O primeiro passo era contar para você. Porque queria fazer você feliz. Era só o que desejava o meu coração naquele momento. Minhas mãos tremiam. Os lábios também. A timidez era muito grande. Mas... eu busquei você. E tentei falar. Mas tímida, envergonhada... Não consegui. Fiquei lá, uvindo sua voz, seu respirar, sem nada conseguir dizer. Então... fui para um canto e chorei. As lágrimas que escorriam de meus olhos eram quentes. Soluços se fizeram ouvir por entre as árvores do jardim. Não conseguia ainda falar dos meus sentimentos. Não tinha conseguido fazer você ser feliz. Nem por um único momento. Não consegui. E hoje, olhando as estradas, os caminhos que percorri, olhando o jardim, apagado de mim, eu vejo, que ainda não consegui fazer isso. Eu falei tanto. Disse tanto e no entanto, não consegui dizer o que mais precisava. E o que foi dito, e o que foi feito... quantas vezes afastou você de mim. E eu fico me perguntanto: Porque eu só sei afastar quem amo de mim. Isso sempre foi assim. Toda vida... Eu não consigo entender. Eu também não consigo entender... muitas outras coisas... Porque, quando eu brigava comigo mesma, com meus princípios, quando eu brigava com meus conceitos e preconceitos, quando eu lutava para me livrar de tantos e tantos nós que me embrulhavam e me amarravam dentro de mim, você estava ali. Comigo. E, quando me libertei de tudo isso e permiti que meus anseios, meus sonhos, meus desejos, meu amor fluíssem para fora de mim, você se escondeu atrás da névoa da montanha... E o tempo passou... E hoje, passado tantos anos, venho mais uma vez te dizer: Que já vivias em mim, antes mesmo de eu me conhecer. Que já estavas ali, antes mesmo de eu o saber. E que, meu coração não pode e não quer... viver sem você... porque "as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo".
Maria
Enviado por Maria em 28/08/2010
Alterado em 28/08/2010
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