Maria
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Desabafo de página virada - roubaram meu País
Por você que pediu. Somente por você. Não mais por mim.
Nem pela história, que a mais importante já foi queimada. Nem pelas letras, que depois da luta, da batalha terminada, temo irão secar...

Mas, por você. Porque pediu... Porque sei que neste momento em especial, precisa. E espero que um dia saiba reconhecer, não com gratidão, mas com respeito e amizade, o imenso esforço, e a imensa dor que move esse gesto junto com o amor pela vida, pela vontade de viver.

E é só por você, que precisa me ouvir para poder continuar a viver por mais um tempo.

Mas não continuarei sem que antes ouça o meu desabafo sobre a situação calamitante em que se encontra este País !

Foi Amanhã! Foi Ontem ! Foi Hoje ! Roubaram o Meu País !

Minha mágoa, minha raiva pelo destino, pela sina impregnada a pobre vida que agora chora a fome, a miséria, o descaso e a angústia que precisa passar e ainda assim seu pão compartilhar....

Abutres voam ao redor do corpo inerte. Largado no átrio de dor, arde nas labaredas de seu próprio calor.

Dilui-se nas chamas da amargura revolvendo-se qual verme que foi impiedosamente pisado pelas solas das botas do governo que rege este miserável País.

Há muito tempo passa fome e por tantas vezes implorou por um pedaço de pão que nunca veio.

Hoje contemplou abismado a imagem negra encravada na porta da casa vizinha e compreendeu o que já tinha compreendido, viu o que já tinha visto, que corvos o cercam de tudo que é lado, inclusive entrando em sua própria casa para lhe pedir o alimento para a alma miserável e sedenta.

Querem carne. Pois levem carne ! Levem o que quiserem ! Levem tudo ! Comam ! Deleitem-se com a fartura e chorem com a miséria que assola este lado de baixo do equador.

E contemplo e ouço as vozes até de corvos do além mar. Corvos do outro lado do mundo. Do fim do mundo ! De várias raças !

Pouco importa de onde vem, se querem comida, encontraram um País que a tem em abundância e talvez por burrice nunca soube e jamais saberá onde está e que pode a si mesmo alimentar.

Deixou-se descobrir, beber e comer até quase esgotarem-se as reservas que mantinha em suas terras.

Mas há muito ainda a dar. Porque tem onde buscar. Porque sabe onde encontrar.

Está dentro de sua própria terra. Dentro de seu próprio chão. E são pouquíssimos Países que possuem tanta riqueza. Embora nunca soube usar.

Mas se não tivesse tanta abundância, ninguém viria de fora para a extrair. Invadem suas matas. Roubam suas ervas milagrosas, roubam seus minérios, sua gente, seu trabalho.

Fazem tudo isso em nome do progresso, do aprendizado, da arte, da medicina, da vontade de crescer nas costas dos outros.

Abutres. Corvos esfomeados das riquezas de nosso País.

Que mais procuram? Procuram alento para seus negros e amargurados corações que andam pelas encruzilhadas, escondidos embaixo das pontes, pelos becos, pelas favelas, pelas sombras dos umbrais?

Que vida triste esta de buscar em outra terra, em outro País o que podem encontrar dentro de si.

Mas levem. Deleitem-se. Peguem. Este País é rico. Esta cidade é limpa. Esta terra é saudável e jamais ficará devendo a vocês o que aqui vem buscar. Porque encontra em si próprio . Porque sabe lutar pelo pão que há de comer.

E me revolta, me enoja saber, que ratos rastejam pelos cantos escuros deste nosso amado País, surrupiando o dinheiro, surrupiando a comida, surrupiando as vidas e levando-as embora para suas pobres e míseras casas, para seus flagelados Países.

Mas levem. É de vocês. É do povo. Este governo miserável diz que tudo é do povo. Tudo deve ser compartilhado. Tudo deve ser misturado.

É a miscegenação das raças. A partilha do pão. O viver em
comunidade.

E tudo não passa de um sonho. Um mísero sonho de olhos abertos, um sonho oportunista, egoísta e vil destruidor de almas que tombam uma após a outra, nascem e morrem para sempre, sem nunca ter tido a chance de receberem o pedaço de terra que lhes foi prometido;

o pão que até hoje sempre foi de outros, que sempre lhe foi negado;

e assim morre minguado, esfomeado, excluído, sentindo em suas entranhas a dor lacinante da adaga que lhe cravaram no peito arfante das lutas da vida em busca do pão, do alimento.

E tudo não passou de um sonho !

Mas que um dia vai acabar. Quando o pobre, o famigerado, o pisoteado, o excluído se erguer, levantar a SUA bandeira e de espírito imbatível, decidido, invadir as ruas, as vielas, derrubar muros, paredes, espaços, limites, e destroçar alambrados com seu grito de luta. Com seu grito de liberdade afinal conquistada !

E naquele dia, será dia de partida de todos os estrangeiros, os maus, os surrupiadores de riquezas, os ladrões do alimento alheio.

E esperamos um novo governo neste País, um governo justo, manso, humilde e correto.

Que não só ouça pedidos de perdão por quem sempre abandonou a luta, mas que humilde saiba reconhecer que também errou e pedir perdão pelas dores que causou, pelas mágoas que plantou deliberadamente, ao fechar as portas dos jardins, das salas do palácio, da mesa dos presidentes e governadores ao humilde, ao pobre, ao que rasteja, sempre no chão, longe das autoridades, das estrelas do céu, longe das constelações dos astros, só por sua vontade e por desígnio de seu governo.

E nesse dia da partida dos miseráveis, dos ratos, que rastejam escondidos por nosso País, será o fim da guerra e o início da paz e da esperança.

Será dia de amigos se encontrarem e se abraçarem e chorarem juntos os espinhos que cravaram em seus próprios corpos.

Só esperamos que toda essa luta, não nos traga arrependimento e que possamos sobreviver a ela.

E ouçam vocês abutres que revoam o corpo inerte, morto, adormecido de nosso País: Perder mais uma batalha, não é perder a guerra!

Que este País sobreviva objetivando tornar-se um País com vida própria, que fala o que quer, sem papas na língua, fala o que pensa, com liberdade de ir e vir em suas próprias terras, em seu próprio chão...

É isso que quero, que almejo e que desejo para meu País!

E que venha a luta ! E que venha ! Estarei como soldado imbatível sempre preparado para o que der vier. Por mim, por minha terra, por meu chão..
Maria
Enviado por Maria em 15/12/2006
Alterado em 06/09/2009
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