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Dar e Receber um Órgão para Transplante: Dura Contradição Brasileira!
Dar e receber um órgão para transplante: As contradições de um sistema público de transplante que se orgulha de ser o maior, mais justo e mais organizado do mundo!

Em caso de necessidade de um transplante de órgão no Brasil, é mais rápido descer sete palmos debaixo da terra do que galgar os degraus para receber um coração, rim ou outro órgão vital à sobrevivência no universo de luzes.

No que tange às doações de córnea, não é diferente. Que o diga essa que vos escreve. Estacionada na fila de espera de doação de córneas, com apenas 10% de visão num olho e 20% no outro, não ficou cega porque descobriu a possibilidade e amigos lhe deram condições, de fazer um implante de anéis de ferrara. O implante regrediu em 40% a doença, dando-lhe um plus de mais alguns anos antes de reentrar o corredor das enormes filas de espera.

Sobreviver enquanto espera um milagre, tornou-se um encargo difícil para quem depende do amor e da solidariedade de um doador e das deficiências e falhas de um dos maiores sistemas públicos de transplantes de órgãos do mundo.

Segundo reportagem da Revista Veja no site ViaVida, enquanto ostenta esse título e o de possuidor de um esquema de filas justo e organizado, o Brasil tem de engolir as falhas e deficiências e as amargas filas de espera que já quase dobram o cabo da boa esperança.

Quem quer doar não consegue e quem precisa receber também não! Uma contradição que constrange e humilha um sistema que se orgulha de ter um bom status mundial. Que adianta estar bem na conta lá fora e diminuir os resultados e as chances de vida aqui dentro?

De um lado os órgãos apodrecem por falta de recursos e pela morosidade em realizar a captação e o transporte, e, de outro, os pacientes mal vivem e mais falecem, antes de conquistarem o direito a uma nova vida. Isso é um sistema justo e organizado? Há justiça na probabilidade de morrer bem antes de chegar a sua vez de receber o transplante? Só se for justo o preço do caixão e organizado o provável velório.

E o que faz quem tem o transplante como única possibilidade de sobrevivência, enquanto espera subir a maca da sala de cirurgia para receber um? Relaxa confortavelmente enquanto encara o espectro da morte e contabiliza os números da fila a sua frente? Mais fácil preparar-se para deitar na mesa do necrotério. E já digo por que: Não obstante as campanhas de sensibilização do governo, as filas de espera continuam aumentando, dobrando a esquina do descaso, do esquecimento, do medo e – pasmem - segundo Veja, da falta de estrutura para captação e distribuição de órgãos. Medonha, vergonhosa, triste e tenebrosa realidade.

A mesma reportagem da revista afirma que são 60.000 os brasileiros que amargam a dor e o sofrimento da espera por um órgão. Desses, pouco mais de 20% terão uma chance de serem atendidos no decorrer de um ano. E tem mais: A central estadual de doação de órgãos do Estado da Bahia  afirma em seu site, que a fila de espera para o recebimento de córnea é de 630 pacientes, de fígado 196 e de rim, assustadores 1.204 pacientes, aguardando crédulos e resignadamente receber uma nova chance para viver.

E ainda queremos nos orgulhar por sermos o maior sistema de transplantes, o esquema mais justo e organizado do mundo?
Se, como diz a reportagem de Veja, apenas 20% tem sua angústia por um transplante atendido dentro de um ano, como podemos nos orgulhar dos 80% que morrem sem um neste mesmo período?

Ah! Vamos nos esconder catando pavios num monte de palha, enquanto não criamos vergonha na cara para mudar a concretude contraditória que ilumina o retrato de nossa feia realidade!

Fontes:
http://ceratocone-bolhosa.com.br/trat/trat.htm
http://www.viavida.org.br/artigos_detail.asp?id=23
http://www1.saude.ba.gov.br/transplantes/modules/mastop_publish/?tac=Fila_de_Espera
Maria
Enviado por Maria em 05/11/2011
Alterado em 21/11/2011
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