Maria
Prosa e Poesia
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O Riso Mais Lindo

Sabe aquelas pessoas que passam um instante na tua vida, mas são um raio de luz a iluminar o teu dia? Então, ontem encontrei um sol assim.
Estava estacionando na rua em frente ao consultório médico e a vaga era bem apertada. Então vi, do outro lado da rua, um senhor escorado em seu carro. Alto, negro, talvez com uns 55 a 60 anos, mexia no celular. Pedi ajuda e ele alegre e prontamente atravessou a rua pra me orientar. Por fim disse:
- Pronto! Conseguiu!
- Estou dentro da vaga?
- Está sim! Aqui de fora todos vão dizer que és um ás no volante!
Eu o olhei tão alegre, animado e disparei num riso, numa gargalhada que saiu tão espontânea como se o conhecesse a anos. Então ele disse:
- Moça (sempre me chamam de moça - com minha idade é bom ouvir, né?)...
- Moça, você deve sorrir assim sempre! Foi o riso mais espontâneo e lindo que eu ganhei esse ano!!!! Você tem um riso lindo, lindo!!!
Eu ainda estava dentro do carro e ele esticou a mão e começou a mexer no meu cabelo dizendo:
- E seu cabelo é lindo também. Tão fininho e macio...
Eu tinha de preencher o papel do estacionamento e ele foi me ajudando com o dia, o mês, a hora. Por fim, saí do carro e caminhamos conversando para a sombra de enormes árvores. Ele perguntou:
- Você é professora? Você tem um jeito tão querido de se comunicar.
Eu respondi que era assistente social. Ele fez outra pergunta:
- Você tem sotaque tão bonito. É gaúcha?
- Sim, sou gaúcha, mas já estou a 20 anos em Blumenau.
Ele perguntou:
- É de que região?
- Do Noroeste do estado, perto da divisa com a Argentina.
- É de Ijuí?
Me surpreendi com a pergunta, porque meu marido é de Ijuí. Perguntei porque citou a cidade. Respondeu:
- É a única do Rio Grande que conheço.
Perguntei sobre ele. Contou que era de Florianópolis, do Agronômica e que estava a 40 anos em Blumenau aprendendo alemão. Pedi se tinha aprendido bem.
- Nenhuma palavra, respondeu. E eu ri alto outra vez.
Perguntou se eu sabia falar e se era alemã. Disse que sabia, mas que tinha descendência italiana/alemã/judia. Então perguntou:
- Você é italiana!!! E fala italiano também? Gosta de jogar truco? Cacheta?
- Não, não falo italiano e não sei jogar truco, nem cacheta, eu respondi.
Então já era hora da despedida. Agradeci mais uma vez e ao caminhar uns dois passos ele ainda me disse:
- Então não esqueça: você deve sorrir sempre! Seu sorriso foi o mais lindo que eu ganhei esse ano!!!!
Como não seguir sorrindo? A alegria dele era contagiante! Fiquei pensando: como é bom encontrar pessoas assim, alegres, animadas, dispostas ao feliz, esbanjando luzes e felicidades...
Eu nem sei seu nome, mas aqui dentro em minha alma ele fincou raízes como um sol de amor, um raio de luz que passou no meu dia.
Eu? Estou sorrindo até agora...
Maria
Enviado por Maria em 29/01/2019
Alterado em 29/01/2019
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