Maria
Prosa e Poesia
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Textos

Não existem dívidas e se pagar.

Não há nada a pesar, medir, medrar.

Areias perdidas, perdidas estão.

Não há mais como voltar um grão que seja

para o lado de cima de nossa ampulheta do tempo.

O que caiu, caiu... O que ficou, ficou...

E, os grãos de areia que restam no módulo do tempo

caem um a um, num ritmo certo e espaçado,

sem falhas e sem paragens para descanso.

 

E não há como medir as perdas,

nem o aumento das dunas na vidraça translúcida...

Os grãos de areias perdidos seguem caindo

e vão se perdendo (e ao tempo) a cada segundo...

Um a mais atravessando o portal da vida

é um a menos para vivermos e aos nossos sonhos.

 

Não temos noção do tempo que resta.

Não há senso que possa isso prever.

Eu sei que tenho este instante Agora.

E esse saber não muda o conhecimento

que você tem sobre a mesma hora do tempo

nem o conhecimento que o mundo dele possui.

Nem mesmo a forma como vamos vivê-lo...

 

O tempo é relativo para cada um.

Para mim, um dia são cem anos.

Então envelheci centenas e centenas de anos

desde que o Senhor das Portas

as bateu com força ao meu lado.

E, por isso, carrego milhões de horas do tempo

em meus costados já cansados

e pedintes do último adormecer.

E que venha vestido de eternidades...

 

De fato não basta saber, pensar,

ocultar o que se sabe, o que se sente...

Nem ficar de plantão diante da porta de cedro

aguardando mais um repentino de luz

que possa surgir na fresta de escuridão

que a mão iluminou ou possa vir a iluminar, mais um pouco,

entre o abrir, entrar, sair e fechar (sem nem para trás olhar)

deixando, sozinho, o que dentro ficou...

 

E a vida de um Sol

que tem tudo para viver sua própria luz

(que lhe mora dentro o peito)

fica como ele mesmo reconhece e diz:

nas lembranças de imagens sem tempo,

de desenhos da lua escondida de todos, do mundo,

num baú de carcalhas de folhas secas caídas ao chão

que foram, a cada hora do tempo, perdendo sua cor e fulgor.

E hoje já não brilham mais como ontem...

Dançam sem vento, sem cor...

num chão que carrega

pro lado escondido e silenciosos da vida

o que há de mais precioso em seu coração: o amor.

 

Sim, não houve velório de lágrimas,

foi um momento de solidão... foi bem só...

mesmo o olhar vendo a face caída

sobre o tampo da mesa... não recuou...

Mas não há o que remediar o que já foi... 

Também não se abona o tempo que passou

com uma lágrima que escorra pela face de amor.

 

Sem lástimas, Maria!

Sem lástimas!

 

O mundo é o que é.

É o real que se antepõe ao sonho.

Que diz com todas as letras o que foi,

o que é e o que não será...

 

Então sem lástimas Maria!

Sem lástimas.

 

Faça igual ao contrário do rei...

Desfilou, cabeça erguida,

sem para a flor um olhar,

pelo corredor à frente do tempo

que ia passando : 

feche o portal de lágrimas

e abra a muralha de saudades!

 

Faça: sem lástimas.

Dance! Mesmo a dança sem vento!

Ela com certeza te leva para algum lugar

nem que seja para ninguém ou para lugar nenhum...

 

Vá! Dance!

Mesmo a dor agrura!

Viva! Dance!

Conquiste a si mesma! 

Sem chorar!

Maria
Enviado por Maria em 12/05/2023
Alterado em 12/05/2023
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