Maria
Prosa e Poesia
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Textos

 

Escrevo, com o coração mergulhado em sentimentos. Já escrevi todos os dias e você está tão quieto que toneladas de perguntas me angustiam a alma outra vez.

 

Dissestes, algumas vezes, que não quis me ferir com seu silêncio, que queria proteger meus sentimentos, mas quando se cala desse jeito é exatamente o que faz, me faz sentir perdida, desprotegida, completamente atordoada e com a alma ferida por não entender o que acontece, o que se passa com você.

 

Em tempos passados você se preocupava com os outros, ontem com a idade do sol e da flor de colibri...

E hoje? O que preocupa você? Fico pensando e não consigo encontrar respostas, pois essas, só você pode me dar.

 

Hoje fiquei pensando: ele estava preocupado com o tempo, com as horas que a terra já navegou ao redor do sol e não consegue perceber quanto tempo já perdemos na vida? Quantos milênios de horas deixamos passar assim, calados, sem nos tocar com os olhos, sem nos falar... Quanto tempo sem brincar como crianças em nosso banco de sentar no jardim e conversar, sem poder derramar a alma em nossas cartas e poemas?? São muito mais do que 7 anos que achastes tanto tempo ao falar das deusas de teu céu, amor. Quantas vezes sete? São 170 milhões de anos que perdemos e o tempo passou e quanta coisa poderíamos ter construído juntos.

 

O que estamos esperando? A morte chegar e nos separar? É isso? Isso pode acontecer amanhã. É um minuto e a vida se foi por entre os nossos dedos. É isso que queremos? Perder os melhores anos de nossas vidas por causa do que nem sabemos?

 

Foram anos, milhões de horas, minutos, segundos do tempo que nos fazemos falta. Bilhões deles. Queremos esse tempo de silêncio para sempre? Para toda eternidade? Queremos?

 

Ainda temos a chance de mudar isso. De nos amar todos os dias, de brincar como crianças, de vivermos como eternos adolescentes apaixonados pelo mundo, pelas coisas do mundo, pela vida, por nós.

 

Como dádiva do universo temos o dom de desenhar palavras. Temos a chance de pintar lindas poesias em nosso quintal de amor, de curtir a amizade, de sonhar juntos, de escrever uma linda e inusitada - extraordinária - história de amor. De tecer carinho com um verso, de destilar paixão num poema de amar.

 

Somos Poesia. Somos amor. Somos vida! Vamos colocar tudo isso fora? Vamos jogar fora tanto sentimento, tantas vivências juntos, tanta beleza que ainda podemos viver, Deus sabe por quanto tempo?

 

Você está tão preocupado com o tempo. Então, cada dia perdido é uma eternidade que não volta. Um tempo que passa e não há mais como fazê-lo voltar. Um dia a mais no calendário de nossa vida é um dia a menos no encontro da "espera dos dias"... E quando chegarem "os dias", que lágrimas vamos derramar? De gratidão e saudade pelo amor que temos e que vivemos juntos ou de dor e remorso por não ouvir o coração e pelo que deixamos passar e não há mais como viver porque um de nós já partiu para o outro lado da vida?

 

Sabe, o que me faz não desistir de você? O que me faz acreditar que sou importante na sua vida? Eu sempre lembro você me agradecendo por ter ignorado o silêncio e continuar a persistir no amor, mesmo sem uma palavra, sem uma voz, sem um som sequer... Apenas o silêncio me tocando a alma. A urgência de tuas palavras e a gratidão de tua alma me marcaram e, ainda, marcam profundamente. E é assim que eu sei que sou importante na sua vida, que você precisa de mim assim como eu preciso de você.

 

Sabe, eu já lhe falei, mas vou lhe perguntar agora: não foi linda nossa história? Quantas coisas vivemos juntos. O que tudo construímos? Continuemos, eu digo. Eu digo... enquanto ouço teu silêncio.

 

Para continuar é preciso sinceridade, honestidade. Você precisa me contar o que se passa, o que pensa, o que está querendo dizer e não diz, como quer seguir nossa jornada pelo mundo até a eternidade de luzes...

 

Um dia você me mostrou uma história linda e triste de um poeta e uma menina. Você quer repetir essa história nas nossas vidas? É isso que deseja? Ou você quer viver diferente?

 

Para ser diferente é preciso não apagar sentimentos, não enterrar o coração e tudo que vive dentro dele. O que você quer? Eu pergunto porque não sei. Você nunca me disse. É seu silêncio que fala e nele encontro só perguntas e tão doloridas que você não pode imaginar como me ferem a alma, o coração. O que você quer?

 

Eu sei o que Eu quero. Eu perdi o medo de viver, de amar, de ser... Você não descobriu isso ainda? Então toma um Sopro de Luz em tuas mãos. Procura num lumiar de brisa a minha voz. Veja onde você se encontra. Eu coloquei você no meu mundo, na minha vida. Fiz um canto de amor só pra você. Eu precisei de muita coragem pra fazer isso.

 

O mundo quer saber quem é esse sol que me entontece a alma, que me toca o coração, que engrandece o espírito. Esse sol que me ensinou a viver, que me fez desistir de morrer. Eu digo todos os dias. Falo sobre ele em minhas preces, olho para ele de meu alpendre, toco seus olhos de luz com meus lábios apaixonados de vida. 

 

Há bilhões e bilhões de anos, num jardim de primeira página ou num recanto de melodias eu fugia de meus sentimentos e emoções. Eu me escondia. Eu tinha medo do que sentia, o que pensava, o que e de quem eu era. Eu tinha medo de me derramar em poesia. De transbordar o coração num poema nú, de perder a alma entre as palavras e nunca mais conseguir encontrá-la. Eu tinha medo dos poetas, tinha medo de você e do que estava descobrindo de sentimentos em mim. Eu tinha medo das descobertas que fazia em mim mesma, em minha própria alma.

 

O tempo passou e eu cresci. Amadureci. Hoje sou outra pessoa. E sei reconhecer o que me caminha em minha pele, sei o que me toca a alma, o que me toma o coração. Hoje eu sei. E você? Você sabe? Às vezes, eu penso que não. Ou, sabe, mas não me diz porque tem medo de me magoar.

 

Talvez, talvez você não se reconhece mais em teus sentimentos. Não te vê em ti mesmo. Não te sente. Não tem clareza do que e porque quem nutre aquela paixão que arrebata, que alucina, que entrelaça a alma, que explicita de todos os jeitos o que é um amor de longa data, que atravessou universos, voando, sem medo, sempre em frente, sempre seguindo, sem nunca desistir, para um dia, mesmo em meio ao caos, consigo mesmo se encontrar. É verdade! me disse o senhor do tempo. É verdade, minha alma sussurrou. É verdade, meu coração (re)significou com lábios trêmulos - o que eu mesma já sabia, mas ainda não via...

 

Eu não sei o que se passa no córrego do tempo. Sei o que ouço e só ouço o eco da pergunta: o que isto significa? E uma resposta dolorida demais: não terá um sonho a realizar. Minha vida é com estrelas que brilham belezas e não com essa pedra rústica e sem brilho que jaz qual folha seca caída ao chão...

 

Sei o que é Nada! Sei o que é pra mim. Nada é Tudo que tenho guardado no relicário do coração. Mais, não sei...

 

O que eu sei é o que eu leio nas entrelinhas. Mas, nunca sei se leio o que eu gostaria que estivesse ali escrito nas linhas em branco ou o que está descrito como verdade antes delas se desenharem.

 

Agora, penso (mas sou mulher sem senso - de simples palavras e simples refletir), é essa minha realidade. Vivo das entrelinhas e linhas em branco no teu pergaminho do tempo . É delas que me alimento. É nelas que me agarro. È pelo que leio nelas que estou aqui, escrevendo pra você.

 

O que eu quero com tudo isso? Como saber se só ouço o silêncio e ele não me diz?

 

Acho que quero fazer o que sempre fiz nestes bilhões e bilhões de anos do tempo. Compartilhar o que sinto, o que penso, o que sou e o quanto amo um homem que eu acho maravilhoso, que eu admiro, que é o destinatário do que eu tenho de mais lindo, de mais precioso em mim – eu mesma.

 

Talvez você pensa que seja o que eu já lhe disse e que quero obrigar você a me ouvir. Mas, não. Eu descobri que não posso me impor. Nem mesmo minha presença não há como impor à você. Hoje, os reversos para descer as escadas que subi são mais fortes do que a minha força de perseverar em ficar. Aos poucos eu vou desistindo... agora você sabe... você vê... você sente... 

 

Eu não consigo mais chegar até você quando você se esconde de mim pelos corredores e cantos do mundo como têm feito. Eu descobri que não tenho acesso à você se você não me quer por perto. Não há mais como eu chegar e invadir um espaço que ocupava e sempre achei que era meu também - mas descubro, tarde, que não é mais. E assim sigo hoje. No subsolo da vida - talvez, por pouco tempo. Também em busca de me esconder, de desviar possíveis caminhos que se encontrem. E todos os caminhos me entregam só silêncio. E a sensação que tenho é que minhas palavras ficam perdidas num vazio demográfico entre o meu e teu coração.

 

Eu me derramo em palavras. Me derramo em poesias e cartas de amor. Todas só pra você, mas, vejo por só ouvir vozes de ontem, que nenhuma palavra é ouvida, sentida, respondida... Parece que falo sozinha.. 

 

Se perder você ou continuar a falar sozinha, o que se ouvirá de mim será como a voz do escondidinho que partiu pra sempre - voz muda e articulada de silêncios. Engulo cada palavra que queira sair, mesmo a navalha ferindo de morte a garganta em flor. Porque as palavras, são o que tenho de mais precioso. É a única coisa que tenho, as minhas palavras. É por meio delas que posso falar com você, chegar até você. Mas.. se você se aquieta... então... como saber se há eco no que eu falo? Como saber se o que eu disse chegou? Como ter certeza que não estou escrevendo para o vazio? Que não estou jogando tudo que sou e tudo que sinto num rio sem destino e sem direção? Que não estou falando sozinha?

 

Enquanto escrevo meus olhos derramam rios de lágrimas... Cada palavra que escrevo é um pedaço de mim que se desenha no papel em branco. E cada lágrima que derramo é um poema que guardo no santuário de meu coração. É um desejo de não estar falando sozinha. Porque isso, eu sei que não quero mais pra minha vida: falar sozinha. Não, nunca mais quero falar sozinha em minha vida...Quero falar com você...

 

E estou falando com você agora meu amor querido... mesmo no silêncio eu, ainda, falo... mas minha voz vai ficando rouca, meus sussurros vão se tornando inaudíveis, minhas lágrimas vão se avolumando em cascatas estrondosas e barulhentas abafando o som de minha voz que, trêmula e com medo de estar falando sozinha, aos poucos, eu sei, vai, outra vez, se calar...

 

 

Maria
Enviado por Maria em 21/05/2023
Alterado em 22/05/2023
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