Maria
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A Dor da Poeta

 

Não há processo criativo sem dor e sofrimento. Sem lágrimas, sem emoções que se descontrolem, que machuquem e ferem a quem escreve e, como num espelho, a quem lê.

 

E não importa se falo de um poema, de uma crônica, de uma redação, ou até de um Trabalho de Conclusão de Curso, uma Dissertação e uma Tese.

 

Quantas vezes não se pensou em desistir e jogar tudo para o alto? Quantas vezes não se pensou em se atirar no asfalto quente da rua e berrar até não poder mais de cansaço, exaustão, de ver que, apesar de escrever, escrever e escrever, ainda não se consegue expressar o todo que se precisava dizer?

 

E quantas vezes somos incompreendidos pela própria dedicação, por não desistir quando tantos apostam que faremos isso? Que não temos "peito" para tanto?

 

Quem olha de longe não sabe o que uma palavra dói... quanto tempo ela leva para nascer, para ser pensada e mais profundo ainda, para ser SENTIDA!!!!

 

Um poema que faz chorar, uma crônica ou cordel que faz gargalhar... E o Poeta, o escritor, nem sabem... nunca saberá que nos salvou a vida com uma meigo e acalentador poema de amor... que nos tocou as feridas com absinto até sangrar e gemermos nos revolvendo com nossa própria morte. E, ao fim do poema, derrama o licor de amoras, o bálsamo da vida e nos faz respirar novamente...

 

E outras tantas que nos quedamos mudos... em silêncio atroz... só contemplando... só olhando... admirando... tentando compreender de onde veio tanta beleza, tanto encanto, de que céu desceu aquela estrela que falou exatamente o que tanto precisávamos?

 

Só quem lê um Poeta em sua dor, em seu fingimento, em suas verdades e mentiras... só quem o olha nos olhos, vê sua alma, nela se confunde, nela se prende, nela mergulha como se fosse um lago profundo... tempestuoso... sacudido por terremotos pode compreender o que é escrever... o que é uma linha gerar... um parágrafo de onze linhas brilhar... com clareza... beleza...

 

E quantas vezes você ouve e não acredita: frases curtas, parágrafos longos... uma linha e meia...

 

Ou... uma ideia por parágrafo... como ouvi: você mistura tudo, embute... e segui... tanto tempo embutida, sem saber separar... sem saber como fazer para um nada falar, um som... como expressar um silêncio? um desespero? como dizer para o mundo que uma mulher também pode escrever? Também pode ser poetisa ? E que não precisa deixar de ser a advogada, professora, mãe, mulher...

 

Quantas vezes ela precisa afirmar, gritar ou se esconder, negar... fugir... que pode escrever o que quiser??? O que der na telha e ninguém tem nada a ver com isso?

 

Ah, porque sobre isso você escreve? Teu poema é sensual? Tua poesia fala de amor??? Você tem tempo pra isso? Quantas vezes ouvi isso? Tantas e tantas... As mesmas pessoas que falavam assistiram E o vento Levou... Orgulho e Preconceito... Uma linda mulher... O Guarda-chuva do Amor... E Coração Valente, Coração de Ferro, Hanibal... e Hittchcock... Casa do Terror... E guerras, e lutas... e dor... e morte...

 

E então? O que tem de tão inescrupuloso num meigo poema de amor... numa mulher que usa as palavras para gritar o que tantas mulheres estão a sofrer, enfrentar... Quantas mães não choram enquanto veem seus filhos sofrendo, batendo asas, sem saber para onde ir... quantas não se derramam em lágrimas até se curvar, dobrar a haste do corpo e quase em uma bola se transformar de ver seus filhos perdidos em caminhos que elas jamais desejariam para eles ou qualquer outro ser humano estivesse?

 

Que homem poderia falar de uma mulher que sofre violência? Que homem? Um que é machista? Um que é rude? Um que, mesmo meigo e amentado de hortelã, jamais conseguiu entender o coração de uma mulher?

 

Sei que estou revoltada, sei que falo com raiva... mas lendo o Poeta, lendo o escritor, tantas e tantos neste Recanto vejo que são mais homens que escrevem... são mais mulheres que se calam e escrevem amenidades com medo de não serem entendidas ou serem entendida errado - ou certo -.

 

Eu só quero escrever... em paz... o que der na telha... eu só quero falar... e se eu quiser ficar quieta, sumida, escondida num canto, escrevendo... eu quero poder fazer isso sem me sentir culpada... que não estou limpando a casa, que não estou cozinhando, que não estou lavando roupa... que não estou... fazendo alguma coisa...

 

Eu só quero escrever... numa noite, numa madrugada... e daí?... num domingo... ou num sábado, sem me sentir mal por não ter corrigido algo, revisado, feito a leitura de um TCC, produzido...

 

Eu só quero escrever... e ser entendida... como entendo o poeta o escritor...

 

Eu só quero, com minha poesia, espalhar amor...

 

Leveza... pureza... encanto... se pelo menos um coração com minhas palavras tocar - nem que seja apenas o eu - ... cada palavra valeu a pena... a vida é nosso maior prêmio disse um poeta... vamos viver... seja cantando... ensinando... cozinhando... escrevendo... cuidando... amando... poetando...

Maria
Enviado por Maria em 05/09/2023
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