Cheiro Silvestre
Com passos lentos caminhei, sozinha, pelo meu jardim. Um aroma adocicado invadia as narinas, uma suave fragrância. Era o perfume dos lilases que inebriavam o ar com seu cheiro azulado.
Meus passos seguiam o ritmo do vento. No céu, a lua iluminava o caminho com sua luz prateada. As estrelas cintilavam como grãos de areia, a mesma areia que misturada à terra, cantava, murmurava sob meus pés.
De ambos os lados, altos muros esculpiam formas retas contra o céu. À frente, um fenda escura formada pela imensa árvore do jardim, que me levava a sonhar em meio a mais completa escuridão.
Com os olhos tristes e pensativos, escalei até a lua. Enquanto minha alma subia, percebi que estava nua e que todas estrelas do céu agora iriam saber o que minha alma escondia dentro de sua nudez:
Sonhos e mais sonhos, construídos com amor e devoção, com ternura e cor de sentimentos intensos e feitos de eternidade.
- "Onde andará Maria"? Alguém pergunta dentro de mim.
Nem eu sabia. Nem eu sabia. Perdida na luz na lua, imersa no mar de sonhos que todos os dias acalento, nem eu sabia por onde andava.
Mas me sentia perdida em meus próprios pensamentos que mais uma vez exalavam o suave perfume de flores em botão - aroma de lilases -, essência que acordava e fazia o sangue pulsante bater o coração mais rápido.
Ouvi uma voz. Um sussurro que dizia:
- "Quem se perde assim, encontra tesouros na própria alma."
- De onde vinha essa voz? Minha alma perguntava, entontecida e atordoada pelo cheiro das pequenas e silvestres flores rosadas.
Uma lágrima rolou quieta e quente pela face. Uma saudade apertou o coração transbordante de sentimentos...
Fitei o vazio da escuridão que enchia a noite do perfume de lilás. A beleza rara da noite se fazia sentir no cheiro silvestre que invadia a alma à sonhar...
Sonhos! Viver somente de sonhos! Não consigo entender. Não, não consigo entender...
Maria
Enviado por Maria em 05/06/2008
Alterado em 05/06/2008