Maria
Prosa e Poesia
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Textos
Dá Pena!
Sabe de quem a gente devia ter pena? Daqueles que deixam-se morrer por dentro e não realizam nada na vida. Não sabem amar, não sabem doar-se, não sabem olhar com amor para o seu próximo.

Daqueles que mentem, roubam, usam de chantagem, falcatruas, para conseguir seus intentos. Esses merecem nossa pena.

Uma vez tinha pena dos dependentes de álcool e drogas. Uma vez tinha pena dos embriagados, alcoólicos, que foi meu pai, que foi meu tio, que foi meu avô, que quase fui eu...

Mas depois, compreendi que são iguais a mim e passei a amá-los, passei a olhar para eles, com olhos de amor.

E minha vida mudou.

E assim é com cada um de nós. Todos temos problemas.

Eu também sofro com os meus. Mas se tiver pena de mim, nunca mais vou levantar.

E olhe que hoje, sinto-me no chão. Não devia, mas é isso que sinto. E preciso levantar. Como ainda não sei. Estou tentando reerguer-me e por isso deste texto aqui.

Quero que seja um impulso para mim mesma. Quero recomeçar. Recomeçar de forma diferente. Não sei ainda se no mesmo lugar. Talvez achar um outro cantinho solitário, onde possa ser eu mesma, sem medo, e, principalmente deixar de olhar negros jardins que só confundem minha vida, meu pensar e meu sentir.

Quero mudar de direção, sair dessa situação e procurar para dentro do meu coração o jardim iluminado do sol, com suas lindas e maravilhosas canções que causam tanta comoção.

E você que me ouve, sabe do que estou falando...

A vida é assim. A gente necessita ter forças para enfrentar tudo, tudo o que vem pela frente.

Sendo a gente mesmo. Sem disfarces, sem máscaras.

A poesia abaixo, da qual desconheço o autor, foi-me ensinada por meu irmão que já partiu para a eternidade. Decorei-a para declamar em rodas de chimarrão.

Publico-a aqui, porque com ela, tento mostrar que esse aí, entregou-se e morreu, mas nós podemos ser diferentes.

Podemos nos levantar e viver outra vez. Com muita coragem. Do jeito que dá. Como a gente é, com quem é, de coração aberto.

E isso não é um sermão viu? É eu sofrendo, sofrendo por me importar demais...

É eu tentando dar um novo impulso em minha própria vida. Tentando superar o medo de continuar a caminhar, mesmo sem compreender as curvas da estrada...


Trapo Humano

Dizia o povo com asco,
ele é um pobre cachaceiro,
que vive a pedir dinheiro,
para as rondas de balcão,
trapo humano, sem remédio,
que sobre o lodo apodrece
e nem ao menos merece
um pouco de compaixão.

Assim vivia rolando,
pelas ruas da cidade,
refugo da sociedade,
alma impura e pervertida,
ninguém no entanto sabia,
um pouco de seu passado,
e nem porque o desgraçado,
sofria assim pela vida.

E numa noite, noite escura,
como a alma de um injusto,
tateando com muito custo,
pela sombra dos umbrais,
o pobre do trapo humano,
num suspiro derradeiro,
num pealo de borracheira,
se arrumou prá nunca mais.

E como a hora da morte,
desperta sempre a consciência,
volta os olhos prá querência
que o rumo nunca se esquece
e num resquício de voz,
que entre a alma fugia,
entre prantos balbucia,
este farrapo de prece.

Meu Deus, reponta minha alma,
lá para as bandas do sul,
debaixo do céu azul,
do Rio Grande que deixei,
recebe a réstea de luz,
que foge deste meu ser,
que morto, possa viver,
na terra que tanto amei.

O rancho que me perdoe,
o seu fatal abandono,
e a prenda que a outro dono,
decerto já se entregou,
que reze um terço apiedada
deste mísero campeiro,
que o destino caborteiro
para a desgraça arrastou.

Eu nunca esqueci o pago,
sempre chorei a distinta,
maldita hora, maldita,
que fui deixar a querência,
movido pelos rodeios
desta cidade cruel,
sorvendo tragos de fel,
matei a própria existência.

Bendita, bendita seja,
minha adorada campanha,
mal sabe a mágoa tamanha,
que seu filho aqui sofreu.
E erguendo o dorso soluça,
num verdadeiro repuxo,
o trapo humano, o gaúcho,
chorando o pago, morreu.
Maria
Enviado por Maria em 01/09/2008
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