Se Alguém me Ouvir...
Ouça. Ouça o que tenho para dizer. Porque está muito difícil não falar. Como é difícil de calar. Meu Deus, como é difícil!
O tempo não passa, o universo do meu mundo encantado travou em alguma brecha do tempo e lá ficou emperrado.
Não se passa um dia sem que eu chore. Não se passa um dia em que não sofra. A dor que sinto, a dor da tristeza, é imensurável. Não se pode definir. Expressar. Nem sei como dela falar.
Não existem palavras que contemplem a imensidão do sofrimento que se abateu sobre mim. Uma dor indescritível, insuportável.
Os pensamentos vagueiam como o vento. Parece que espadas forjadas especialmente para me ferir foram cravadas em meu corpo.
Não sei mais se sinto, ou se não sinto, e o que sinto. A dor anestesiou os sentidos.
A sensação é de ter sido atropelada por um trem em alta velocidade.
Dia-a-dia os sentimentos se confundem, se arrebentam dentro de mim em tsunamis avassaladoras.
Descobrir-se um nada, um lixo, um objeto que pode ser jogado de um lado ao outro de um campo de futebol é uma dor muito grande.
A humilhação, a vergonha de ouvir o que tive de ouvir, arrebentam meu peito e rasgam minha alma em mais de mil pedacinhos.
Nunca, jamais pensei ouvir algo assim de quem sempre me incentivou a deixar falar o coração.
Jamais pensei que causaria embaraço a alguém que pedia para usar o único meio seguro de comunicação... o falar.
Jamais pensei em ouvir que tudo o que falo, o que digo com tanto amor e carinho, nunca teve importância, nunca significou nada, a ponto de ninguém ler.
O que sinto, essa dor, nunca vai sarar. Não vai sarar porque ficou a marca da vergonha, da humilhação, da rejeição. Foi o que restou para mim. Depois de todo o amor que dediquei. Depois de tudo o que disse, foi o que restou para mim...
Ao perdão seguiu-se o amor, mas as marcas ficaram e nunca se apagarão. Tremendas cicatrizes que serão vistas por todos os séculos de minha vida, estrias profundas que já afetaram e afetarão todo meu viver, meu relacionamento com as pessoas... minha confiança na pessoa do outro.
Confiar em alguém tão profundamente, clamar, implorar que fale com você de uma maneira clara porque você não consegue entender enigmas e por fim, só receber um chute, como se faz com um pau que atrapalha o caminho, como se chuta uma bola contra uma parede, como se pisa em algo que já não serve mais para nada... não tem palavras para definir a decepção, a dor, o sofrimento, a vergonha, a humilhação. Não, não existem palavras...
E por isso, estou me calando e creio que agora, após conseguir desabafar, farei o que sempre disse que faria... desaparecerei como um cometa no espaço "do universo das luzes". Lá não é o meu mundo. Lá eu não sei mais viver... Lá, eu já morri para sempre... dentro e... fora de mim...
Maria
Enviado por Maria em 26/09/2008