Fui Embora
Caminho lentamente pelo jardim. Observo a montanha, seu pico mais alto, inalcançável até para os olhos que a vêem. A névoa continua abrançando-a como sempre foi. Lágrimas escorrem por suas encostas numa nuvem esbranquiçada.
Estendo minha mão e toco a única estrela do céu. Ela navega mansa ao sabor dos ventos no céu azul.
Vou até o portal de flores. Está aberto. Para fora dele a estrada de flores e rainhas me dizendo que devo tomá-la definitivamente.
Vejo-me ainda uma última vez no espelho. Olhos angustiados. Boca entreaberta. Pareço estar em meu último minuto, já com o ar a faltar.
Sinto que o jardineiro quis dizer que a flor morreu e que uma nova flor já foi plantada no jardim.
Olho mais uma vez para trás. Uma lágrima rola pela minha face. Pela última vez vejo a montanha imponente. Contemplo tudo com a dor sufocando o coração.
Vejo a flor velha e desfolhada ao lado de um jovem e lindo botão a se abrir. O tempo do tempo fechou suas portas para mim no jardim dos sonhos, jardim da felicidade.
Volto-me para a estrada. Meus pés pesam feito chumbo. Mas começo lentamente a caminhar.
Vou embora... não sem lágrimas, não sem dor... vou embora...
Caminho pela estrada solitária. Sinto-me perdida.
Vou até o meu jardim. Olho ao redor, para o que os meus olhos viram... Meu jardim. Que eu mesma plantei. Cada flor que ali floresce foi escolhida por mim, tocada por mim, pelo meu olhar. Sinto-me em casa.
Olho o rio que desliza suave em meu jardim. Ele corre mansamente e leva em suas águas caudalosas minhas lágrimas. Leva uma parte de mim. Não sei para onde vai sua correnteza... Dizem que o rio corre para o mar... para o mar...
Ergo os olhos para o céu. Ao longe vejo o sol se pondo. Foi embora para sempre, neste dia.
Quero acreditar que um novo sol vai brilhar quando o dia tornar-se amanhecido. Quero acreditar... Acredito!
Maria
Enviado por Maria em 29/09/2008