O Suplício da Borboleta
O silêncio
É a única voz
Que ouço agora.
Dizem que
O silêncio não dói.
Como não?
Nos deixa,
Moídos de dor.
Dilacerados,
Rasgados,
Pelos ventos
De ontem.
E o ontem,
Ainda não terminou.
O ontem será eterno
Tem asas, voa,
Para sempre
À frente ficar.
Para cada dia lembrar,
Quem você é de verdade.
Uma coisa vazia,
Sem valor.
Um farrapo,
Um trapo,
Sem esplendor.
Existe maior suplício do que esse?
Contemplar a própria miséria?
Descobrir tua culpa, teu fardo
Só por ser alguém?
Existir?
É este o castigo,
Merecido castigo:
Passar o resto dos dias
Como uma borboleta
Nascida torta,
De asas quebradas.
Uma borboleta,
Que devia encantar
E embelezar,
Àqueles que
Nela tocassem.
No entanto assim,
Nascida torta,
Quem a toca
Se enche
De tristeza,
De dor.
E por isso,
Só lhe resta
Pelo chão ficar
Pelos poucos dias
Que lhe ficaram.
Para seu eterno
E dolorido,
Muito dolorido
Suplício,
Carregar.
Maria
Enviado por Maria em 16/05/2006
Alterado em 19/10/2006