Maria
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Textos
A Primeira Página III
Certa vez, abri a primeira página de um livro. Livro esse já muitas vezes apagado e queimado.

Por muitos e muitos séculos deixei de lê-lo. Enquanto o lia fazia anotações de beirada de página. Mas isso agora me é proibido.

Hoje, com o coração ardente de saudade das doçuras, procurei a primeira página do livro de minha vida outra vez e a encontrei colorida de cores, exalando de muitas flores odores, e repleta de vida azul da cor do mar dos meus pensamentos.

Silenciosa, caminhei em cada linha, cada trilha que elas significam, aspirei o perfume dos últimos hibiscos que floresceram lá.

Contemplei o olhar tristonho e solitário de um cão que lá mora os seus dias.

As lágrimas rolavam em minha face misturando-se à terra do canteiro onde cresciam flores de natal.

Meus dedos acariciaram lentamente cada uma das verdes espadas prateadas cravadas no lado do caminho.

E parei diante de um telhado acinzentado onde meus olhos viram, um homem, o poeta de barro, sobre o telhado. Meu coração deu um salto quando lembrou a primeira vez que adentrei os jardins dos sonhos, a primeira vez que abri as páginas do livro da minha vida.

Viajei pelos fios que cruzavam os ares em direção do horizonte infinito e cheguei até os fios grisalhos que desciam uma escada...

Ali as lágrimas se intensificaram.

Meu espírito se ligou aquela alma e vi a face do sol brilhando para mim em meus sonhos.

Ah! Meu Deus! Quanta saudade das folhas desse livro. Quanta saudade.

Continuei minha caminhada solitária, sentindo cada canto, cada lugar, como se tivesse sempre vivido dentro dele, feito parte de suas histórias, parte de um povo, de uma terra. Senti como se nunca, nunca eu tivesse uma vez saído dali.

Olhei os vidros da janela, o palhacinho do jardim... Quantas histórias, quantos sonhos acalentados.

Ergui os olhos para a pico da montanha mais linda do mundo. Tão límpida. Sem a névoa que sempre a abraça.

Terra amada. Adorada.
Não sabe como é amada. Não sabe.

Ao longe um cerrado de folhas, um telhado de barro. Muros, paredes... paredes erguidas para separar...

A sombra do sol tocando a borda da montanha e com sua luz iluminando seu pico.

Ah! como queria ser esse sol. Como queria...

Depois... A névoa encobrindo tudo... Como sempre foi... Espadas que cortam os fios que ligam a vida a outra vida... A floresta escondendo tudo... Névoa...

Continuo a caminhar e ao longe vislumbro casas... Uma vila... A vila que espera o dia de amanhã...

Fecho os olhos... choro forte...

Um mundo encantado... o sonho de uma estrela, a primeira página de um livro da vida... longe, bem longe de minhas mãos...
Maria
Enviado por Maria em 10/05/2009
Alterado em 16/05/2009
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