Fardo
Não sei porque, hoje acordei com uma dor no peito, uma angústia, uma agonia sem explicação. É como se um fardo enorme estivesse sobre mim e mesmo sem o ver sentisse o seu peso. Uma sensação estranha. De fim.
Como se as cortinas do mundo caíssem e fechassem a visão para a luz do sol. Eu sei. Não quis aceitar a determinação do juiz. Essa autoridade máxima que decidiu sobre minha vida sem nem mesmo me perguntar se era isso que eu queria também.
Hoje eu compreendo coisas que não conseguia compreender a tempos atrás. Hoje eu percebo como fui tola em tantos passos da minha vida que caminhei cega do que estava tão claro diante dos meus olhos.
Estou dando um tempo pra mim. Um tempo para o meu coração. Não quero mais sofrer e por isso após tentar tanto, descansarei minha alma no colo de Deus. Ele sabe que minhas forças se foram. Eu não sou uma mulher de aço. Não sou forte assim para suportar tudo isso.
E se hoje descambo inerte é porque já não tenho mais motivos para lutar. E como poderia? Como poderia lutar contra uma maré que não dá trégua? Contra tempestades que não tem mais fim? Não, eu não poderia mais. Um dia eu tentei. Vários outros também.
Mas hoje eu aceito a derrota. E retiro-me, não ao banco de reservas, mas do campo. Se tudo não passou de um jogo, eu não sou jogadora.
Não sei jogar. Deixa quem sabe jogar. Eu sou uma mulher apenas. Uma menina. Um ser que descobriu muito tarde os caminhos dos sonhos. Num tempo onde uma mulher não pode nem mais sonhar. Até isso não é mais permitido.
E cortaram minhas asas, podaram minhas estradas, roubaram minhas sandálias. Eram apenas fiapos. Não me levaram mesmo a lugar nenhum. Hoje eu acordei com um peso em meu peito. Uma angústia, uma saudade de mim, de mim antes de me conhecer melhor...
Maria
Enviado por Maria em 02/10/2009