A culpa de viver
Agora que encontrei o que procurava
só quero a paz que é o direito
dos mortos e daqueles
que não tem mais porque viver.
Quero o silêncio da minha alma
rasgando em mim como espada
fazendo a ferida de morte.
Encontrar a si depois
de mil anos de busca incansável,
traz extremo cansaço
e um torpor que ameaça
a vida que ainda resta,
como fiapo, um trapo,
depois da batalha interior.
Fecho os olhos para a vida
e busco o descanso eterno.
A morte é o lucro
para quem encontra
o fim de suas buscas
e procuras.
E a morte não dói.
O corpo já está entorpecido
pela dor interior.
Os sentidos não mais existem
e morrer é como se deixar
levar pelas águas
da correnteza de um rio
que calmo corre sem parar
para as águas do mar.
Nunca pensei que o encontrar
do fim da busca se daria
com a morte em mim.
Na verdade tinha medo
de chegar aqui.
Mas agora vejo este espaço
entre a vida e a morte do ser
que acabou de nascer
e penso que deveria
ter vindo mais cedo.
Era o evitar do sofrimento
para este corpo
agora destruído
pela roda da vida
que com força o atropelou.
E morre sem ter conquistado
o centro do jardim dos sonhos
onde suas buscas começou.
Morre sem culpa de ter nascido,
mas culpado de ter vivido
e antes não ter morrido.
Maria
Enviado por Maria em 23/07/2006