E se me perguntarem
o que fiz hoje, vou dizer
que naveguei dentro de mim
tão mansa e docemente
que até vi onde era
meu início e meu fim.

E o tempo que estive
lá não conta.
Tenho cem anos de horas
para receber de mim
que deixei passar.

Mas agora sem nem mais existir
nada tenho em haver.
Nem da vida,
nem da morte.

Eu mesma sou devedora de mim
e do sol que ajudei
o brilho escurecer.

Espírito assim,
com tamanho dom de outros
espíritos naufragar,
só merece morrer.

Venho agora carregando no corpo
a vestimenta branca
que cobre os mortos
de coração.

E para onde vou?
Para o fim do mundo,
onde nem eu mais
possa me encontrar.