Maria
Prosa e Poesia
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Textos
Furtar-me à Escrever
Não posso furtar-me ao desejo de escrever. Não, não posso.

Quê fazer? Ele cresce na velocidade de uma erva daninha, na medida em que algo toca a alma, interage com o espírito.

Não há como explicar. As palavras se afunilam dentro do peito. Acotovelam-se para sair e neste embate, é difícil não ser confusa ou pedante, ao usar sempre as mesmas, aquelas que vencem a eterna corrida para a eternidade no papel.

Uma luta que não dá trégua, dia e noite a perturbar. Tiram o sono. Ao dormir, sonho com elas. Ao abrir os olhos na escuridão vejo-as brigando umas com as outras, explicando-se, discorrendo os motivos de porque possuem mais capacidade e competência para fazer compreender o que quero dizer. Fazem estrepolias mil para provar umas às outras e a mim, que são elas, bem elas, as que me farão bem expressar.

Mas... não conseguem. Não conseguem nunca.

Fica sempre faltando “aquela”. Aquela única que, escondida em algum canto escuro do ser, não deseja se deixar conhecer. Seria ela que revelaria a verdade. Seria essa, essa palavra teimosa, arredia e surda aos meus apelos, que deixaria fluir a alma verdadeiramente.

Se eu a encontrasse. Ah! se a encontrasse... Então você saberia quem é Maria.

Mas... onde encontrar essa palavra que não deixa dizer o que há mais de dois milênios tento falar?

Sinto pobreza em minhas palavras. Sinto a ausência do que não está.

Não vejo as luzes e pirilampos. Os cristais e vitrais estão foscos. O telhado está coberto de musgo, pelo tempo em que a letargia do meu silêncio toma a alma de poeta.

Não consigo enxergar as danças, os rodopios, o bailar, as saias azuis rodantes, o balé das letras. Onde estão as borboletas coloridas, as gaivotas em vôo sereno e as águias que em certeza voam até alturas que nossos olhos não conseguem ver? Onde as flores, as rosas, os cravos, açucenas e jasmins?

Só vejo três-marias, onze horas e margaridas.

Cadê o brilho enluarado de ternura, a cor e a textura prateada de seda e pelúcia em minhas poesias ? Onde a ternura, o encantamento, a magia e o fluir do espírito nas linhas e entrelinhas?

Não sei. Não sei.

Mas sei que a razão está com a luz do sol que brilha no universo de luzes:

- E, mesmo assim, não posso, não consigo jamais, furtar-me ao desejo de escrever...
Maria
Enviado por Maria em 07/08/2010
Alterado em 07/08/2010
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