Devagar caminha a lágrima em minha face. Deixa um rastro que cintila à luz do luar. Uma trilha de dor. Uma estrada que leva para algum lugar que nem eu mesma sei, pois sou surda a voz do silêncio.

A escuridão do infinito assusta. Não se vê horizontes. Nem o minuto seguinte já não sabe existir.

Ouço a melodia da noite que enche de encanto o mundo fora de mim. Contemplo a voz dos poetas que cantam o amor e a paixão em cada verso que soltam ao vento.

Não, não. Hoje ela não toca a alma, nem faz a poesia nascer em minhas entranhas. Toca a alma o que tu sentes, o que tu hoje vives.
Sinto em mim, pressinto, que estás a sofrer, a chorar descontroladamente a saudade de quem não está mais aqui.

Tua dor navega em mim e me corta por dentro. Deixa moída a alma. Amassa o espírito até levá-lo ao chão.

O coração está a sangrar dentro do peito. Vejo o vermelho vivo que se esparrama em minhas mãos e desejo ardentemente partir também. Para chegar lá, lá na eternidade e dizer a quem tu perdeste, ao sangue do teu sangue, que teu amor é imensurável e que tua saudade profana a alegria e a felicidade da tua alma.

Dizer que nem o imenso amor que te é doado todos os dias consegue tirar-te da angústia e do sofrimento que esta ausência te faz.

Falar que não consegues apagar de ti a dor que ainda cala fundo, tão fundo em tua alma, a ponto de entristecer o teu espírito e deitar ao chão tuas forças em continuar lutando.

Com os dedos da alma toco a tua. Me queima a tua dor. Me arde teu sofrimento. Então eu choro. Porque sei como a dor da perda é. E se choro, se lamento, se me rasgo por dentro o faço também por mim.

Queria ouvir a voz do silêncio. Queria que me dissesse que vai lutar e que nunca, jamais vai abandonar a si próprio... Queria que me dissesse que quer viver, que almeja ser luz, ser sol, ser calor até que o Deus de amor recolha seu sopro de vida de teu corpo. Que me falasse que nunca desanimará de buscar a espiritualidade, o ninho do Pai, e o paraíso do céu. Que desejará a eternidade de luz como eu também a desejo.

Queria que me dissesse que o amor é o mais belo dos sentimentos, contidos no sofrimento, na dor da ausência, na saudade de quem não está, na falta de quem o coração não consegue e não deve jamais esquecer... Que me contasse que sente, na brisa do vento, na luz do luar, no brilho das estrelas, nos raios do sol, no perfume da flor, na terra da montanha, o fluir da vida e o amor derramado aos teus pés como bálsamo para as feridas e acalanto para a alma cansada de tanto sofrer... Que sentes o amor. Este amor. Este imenso amor que sinto por ti.

Não, não chora mais. Seca teus olhos. Sonha com o reencontro na eternidade.

Mas, se não consegues parar de chorar não pranteie mais só.

Deixa Maria chorar com você !