Não posso. Não consigo me calar diante de você. Como você consegue? Me ensina?

Me ensina a contar, sem dizer nada que... caminhei entre as flores de teu jardim. Vi o sol beijando a montanha. Os gatos no muro. Os travesseiros na janela. Tudo me parecia tão íntimo. Tão perto. Tão meu. Como se fosse um mundo em que eu vivi ou estive um dia. E tu disseste que foi feito prá mim, tudo prontinho esperando por mim, para quando um dia eu chegasse.

E eu vim. Vim uma e outra vez. Sorri ao ver que as cores da flor estavam lá e ri como uma criança quando lembrei como, igual uma, brincavas comigo em teu jardim.

Eu, sem saber o que ia dentro em meu peito, sentia o coração disparar e corava de timidez quando a cada manhã encontrava uma brincadeira, uma linda surpresa feita por ti, especialmente para mim.

E podia sentir, mesmo sem olhar, teus olhos castanhos espreitando-me por trás do tronco de uma árvore, ouvindo-me entoar melodias, canções que surgiam da inspiração daquele instante, uma à uma, na janela do tempo.

Meu espírito se agitava em ânsias porque percebia você, escondidinho, sentindo minha alma tocar a tua e enliar-se ardente em teu corpo naquele momento só nosso.

A felicidade invadia o meu dia e eu não conseguia entender porque. Hoje sei. E como gostaria que este tempo não tivesse partido. Que este tempo voltasse.

Seria maravilhoso voltar à rolar contigo por entre as flores, esconder-se na neblina, rodopiar abraçadinhos por entre as árvores da floresta como sempre fazíamos, beijar, abraçar, amar enroscados de desejos no calor do sol e depois deixar o corpo molhar na chuva fria que cai mansa no sopé da montanha onde crescem as flores.

Amor? Me ensina a calar como tu? Me ensina a falar como tu falas? Assim... assim... sem dizer nada? Me ensina a dizer eu te amo sem palavras? Me ensina?...

Me ensina... Me ensina a ser você dentro de mim para que eu nunca, nunca deixe de me entender, me amar e saber que posso ser uma flor a encantar para sempre tua vida com meu amor e o meu exótico perfume.