Ana
Ana
Tão longe, tão distante e no entanto, tão perto de mim chegaste com a tua dor que até pude senti-la. Sim, essa, a dor que tu sentes. Tão igual a que eu sinto. A dor de ter um cisne que precisa de ti, como de mim, para aprender a aprender a viver.
Seu pedido de socorro atordoou-me. Deixei-me envolver por ele e meus olhos não dormiram de tanto pensar em como poderia melhor te ajudar. Como te disse:
- Meus braços são tão pequenos para uma terra tão grande.
Tudo é tão longínquo. Eestás quase em outro país. E só pude ouvir você. Mais nada. O pouco que falei, não sei, me pareceu tão vazio, tão pobre do todo que necessitavas.
Enquanto conversávamos me senti verdadeiramente tua irmã. Nem parece que a tão pouco tempo nunca tínhamos nos visto. Olhava sua imagem e pensava:
- Ccomo posso alcançá-la com minhas palavras? Meus braços são tão pequenos e este é um momento tão difícil.
Sabe... queria pegar seu cisne em meu colo e acalentá-lo junto ao peito, como uma mamãe faz com seu filhinho. Queria saber do pequeno ser que ele carrega no ventre e dar esperança, muita esperança. E acho que é de esperança que ele mais precisa, principalmente diante do nefasto poder do veneno que absorve todos os dias e não consegue largar.
Sabe, eu não consigo entender como pode uma mãe que carrega um filho no ventre jogar "pedras" para dentro de si sem nem pensar no pequenino anjo que ali dentro se aninha e cresce. As lágrimas rolaram com este pensamento. Lágrimas de dor. Acho que tu, com teu amado, também chora essa mesma dor. A dor de ver alguém que amamos, ainda mais sendo tão perto, fazer morrer e morrer aos poucos, por causa da sutileza da pedra que rouba os últimos raios de vida.
Lembrei do dia em que te vi pela primeira vez. Foi quase ontem. Você tão pequena. Muito mais do que eu. Mas senti que és guerreira, lutadora.
E vi isso. Porque estavas ali. Porque vieste aprender comigo que nada mais sou do que alguém que só viveu o que sabe. Mais nada. Nem teoria eu sei.
E tua alegria me contagiou neste tempo em que passamos juntas no campo das flores. E agora tua dor e tua tristeza também me emocionam. Mas que posso fazer? Meus braços são tão curtos. Curtos para te ajudar.
Mas... não o são para te abraçar. Para te abraçar e te dizer:
- Querida irmã, não posso te ajudar, mas posso por ti e por teu cisne querido, orar.
Com carinho,
Maria.
"Hei amiga!!! Estou aqui lendo sua carta e chorando. Chorando por termos um Deus tão maravilhoso e que em uma hora destas me fez te conhecer, sei que não fui para Campos das Flores porque quis, sei que o Senhor me levou ali... E sei que apesar de nos conhecermos muito pouco, você por incrível que pareça, é a única pessoa que eu confio para me dizer o que fazer. Durante o tempo em que nos ensinaste, senti muito amor nas suas palavras, na sua forma de nos ouvir, de nos responder.... Quando dava um exemplo de alguém, falava da pessoa com muito amor, suas palavras eram doces o tom de sua voz era macio. E tudo isso fez com que eu aprendesse a te admirar muito e saber que você sabe o que fala. Você não é só uma pessoa muito competente no que faz, é uma serva de Deus que escolheu se doar para pessoas tão mal vistas, tão marginalizadas. Obrigada por tudo.
Que o senhor Jesus te recompense. ANA. 16 de dezembro de 2007"
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Ana,
eu também acredito que nada acontece por acaso. tudo tem um propósito, uma razão de ser.
acho que Deus sempre escolhe algumas anas e alguns lúcios para colocar no caminho de marias como eu, para que possamos aprender mais sobre a confiança mútua, o amor fraterno e a verdadeira amizade.
ana, eu não sou assim sempre. esse mar de ternura é um vulcão em erupção constante. e muitas vezes ele explode queimando, com sua lava fervente, aqueles a quem mais ama e que o amam de paixão.
sua confiança me honra e lamento tanto não poder estar aí, para ajudar mais concretamente neste momento crucial na vida da filha de sua irmã.
só posso pedir que a ame incondicionalmente, mesmo que não concorde com o que ela está fazendo consigo e com o pequeno broto de amor que carrega no ventre.
ela vai sentir teu amor e quando precisar de ajuda é a ti que ela vai procurar. então tu estarás lá. de prontidão. preparada e armada de esperanças para dar-lhe e impulsioná-la para a frente.
e lembre-se sempre. ela é um cisne que pensa ser um patinho feio. ela precisa aprender que é um cisne e a viver como um. e cabe a ti ensiná-la.
é uma bela adormecida. uma bela adormecida que precisa ser acordada com o beijo da vida e do amor que Deus colocou no meu e em teu coração.
faça isso. entregue-lhe o beijo da vida e ela renascerá da noite em que vive para a luz que brilha eternamente no dia que vai chegar.
eu estarei aqui, pedindo a Deus que lhe dê forças a ti e ao teu amado.
e sempre que precisares de uma palavra amiga, de incentivo, de um abraço... estarei aqui.
afinal para isso, para um abraço amigo, meus braços com certeza te alcançam.
maria.
16 de dezembro de 2007
Maria
Enviado por Maria em 31/08/2010
Alterado em 31/08/2010