Monologando V
Palmadas
A poesia calou tantas vezes em mim e outras tantas eu a fiz ressuscitar. Mas não vejo que já consegui dizer o que gostaria de falar. Quando calcei estas sandálias elas machucaram os meus pés e feriram meu coração. Porque eu não sabia perder o que estava dentro de mim. Nem renunciar a sentimentos e desistir de estradas que só chegavam ao fim. Hoje vejo que aprendi a perder, aprendi a desistir de alguns caminhos e a renunciar a sentimentos que ninguém quer. Mas agora não sei mais o que fazer e nem para onde ir. Não quero deixar apagar minha luzerna, nem jogar fora o óleo do meu candeeiro. Mas não sei mais como manter minha luz acesa em meio a mais uma tempestade interior. Preciso que minha canoa volte e sei que devo amarrá-la ao cais para que não se perca nas vagas da tormenta. Mas ao mesmo tempo se trava uma luta dentro de mim. E o desejo de desistir se torna maior do que a ânsia de continuar adiante. E tudo me toma num redemoinho como as águas de uma onda que não tem como se deixar prender. Não creio que mereça levar algumas palmadas para não sucumbir. Não sou mais uma criança como era quando meu pai me disciplinava. E os tempos mudaram. Não é mais tempo de apanhar. E mesmo que fosse, a vida já me deu tantas surras que nem sentiria mais a dor. Porque nada dói mais do que a dor que sentimos em nosso interior. E muitas vezes nem sabemos porque...
Perto do Sol
Bati minhas asas - voei - naveguei pelo infinito, arranha-céus, arranha-gente, montanhas de braços abertos. Rumor de trilhos, metrô, o bonde amarelo, água, terra, céu, tudo misturado, buzinas, barulho, casas, favelas, poesia no ar. Em mim, emoção sem fim. Lágrimas, riso, sorrisos, festa, girar, gritar, dançar e brincar. Tão perto. Tão perto do sol estive, que quase o pude tocar...
Eu-Lírico
Eu me conheci através da minha própria poesia...
Essência
Caminhei silenciosa pelas trilhas do jardim. Ainda vi luzes de natal brilhando na escuridão. Não sei se era noite. Nem sei se era dia. Com a ponta dos dedos toquei cada flor, cada pedaço de vida. Viajei no tempo e recordei a primeira vez que meus pés lá pisaram. Quase dois milênios já se passaram. Quantas mudanças. Quantas flores morreram, quantas foram queimadas. Quantas canções, brincadeiras e risos ecoaram em minha mente enquanto caminhava. Chorei de saudade. chorei demais. Muitas perguntas se fizeram nascer outra vez. Sentimentos e mais sentimentos trouxeram de volta muita emoção. O que aconteceu comigo neste tempo todo? Será que realmente me tornei uma nova mulher? Teria realmente crescido, amadurecido? E a pergunta que não cala e que faço a você que me escuta: - Valeu a pena? Será que valeu à pena tantas lutas? Tanta dor, tanto sofrimento? Teria Maria se deixado realmente transformar sem perder sua essência?
Compreensão
Não consigo entender nada. Nem o tempo, nem as horas dele. Nem os degraus que sobem e descem dentro de mim levando-me ora prá cima, ora lá embaixo, no chão, no subsolo de meu coração. Tudo parece penoso, pesado, cheio de escuros que amedrontam e trazem a desesperança. Queria conversar com alguém, falar dos meus sentimentos, contar das minhas dores, chorar os meus lamentos. Quantas vezes caminhei dentro de mim no dia de hoje? Quantos olhares em todas as direções que me fazem o ser? Até como criança pequena eu já fui. Sentei em meu próprio chão, cruzei as pernas e berrei minhas angústias, gritei o que não concordo, não entendo e as perguntas que queria fazer e não posso. Me enchi de esperança, de alegria e logo em seguida derramei rios de lágrimas, apiedando-me de mim mesma, de ti, sem nem conseguir compreender o que estava me acontecendo. Porque tantos sentimentos contraditórios? Porque me deixar abater assim? Eu que sempre fui tão forte? E que sempre estava ali, pronta para ajudar quem de mim necessitasse? Não entendo, não, não consigo entender. E sinto queimar em mim as lágrimas. Lágrimas que meu coração deseja ardentemente secar e não consegue jamais. Por isso meu choro é forte, doído, sofrido e não sei se um dia vai acabar...
Achados de Mim
"Ser diferente é ser igual a si mesmo e não se anular face ao outro." Hoje sou igual a mim mesma, mesmo sendo diferente. Só em pensar, meu peito se agita, a respiração acelera e o choro se faz sentir. Porque recordo o que passei para tudo isso descobrir. Quantas vezes me deixei humilhar? Pisar? Quantas vezes me deixei anular? E outras tantas que me escondi até de mim? Meu Deus! Como dói lembrar. Eu aprendi chorando. Aprendi doendo. Aprendi queimando os pés na lava incandescente da dor. E não tenho vergonha de confessar que fui fraca. que fui tola, que fui ingrata com meu próprio modo de ser. Agora, aqui, bem sozinha, deixo rolar a tristeza e a alegria de saber... Que hoje sou eu mesma, sem jamais me deixar perder. E foi assim, bem assim, que surgi na escuridão de mim, fazendo luzes das chamas que já se apagavam em meu coração.
Mãos Dadas
Ficar perto de quem se ama. Ouvir um simples: Oi ? Receber um só olhar que seja, uma palavra... É a glória. Enche o dia de luz e um arco-íris dança no céu. Ouvir o sol perguntando: - Olá, bom dia. Como vai? É o romper das grades do coração, o deflagrar da bandeira que liberta e faz brilhar luzes e os mais íntimos sentimentos. Só sentir a presença silenciosa ali do lado, cuidando, fazendo caminhos, amando... é um derrubar de muros e alambrados que insistimos em manter fechados. Só saber que seu nome é bem guardado no coração e as almas estão prá sempre entrelaçadas, descamba avalanches e mais avalanches de emoções nunca antes sentidas. Talvez essa diferença esteja no pensar, no sentir as nossas necessidades. Você ama a sua necessidade. (o que seria essa necessidade você não diz - então só faz pensar). E eu penso demais. E por isso eu penso e concluo... E após concluir, penso no que necessito. Necessito amar a necessidade que o outro tem de ser amado. A necessidade que o ser que eu amo tem de ser adorado. Ele precisa do meu amor. Então eu o amo. Simplesmente assim. E estou sempre ali. De mãos dadas com a sua vida.
Maria
Enviado por Maria em 13/09/2010
Alterado em 13/09/2010