Mulher de Parar Posto de Gasolina
Aconteceu. Não dá prá negar. Aconteceu.
Fomos à Belo Horizonte guiados por um GPS. Em São Paulo quase fomos à loucura com as ordens dela. Digo dela, porque era a voz de uma mulher. Na viagem a chamávamos de menina. Ao chegar em Belo Horizonte ela quase nos matou de tanta preocupação porque tínhamos a impressão de que estávamos perdidos de verdade.
E a gente estava. Mas ela não.
Nosso amigo mineiro, o Barroso, logo a chamou de Geralda Pereira dos Santos (GPS). Pois é. E na noite de chegada ele disse que no dia seguinte iríamos sem a Geralda para o local onde pretendíamos. E ainda, naquela mesma noite, para que não nos perdêssemos, ele nos levou pelo caminho que devíamos fazer. Nos ensinou um “atalho”.
- A Geralda é burra e não segue atalhos, dizia ele.
Isso a gente já tinha descoberto na viagem de dois dias até lá.
- Não adianta. Ela não conhece atalhos. E com ela vocês vão levar umas duas horas prá chegar no centro. Vão pelo atalho.
Pois bem. Assim fomos. Pelo atalho. Incrível que na primeira esquina que deveríamos virar prá algum lugar... viramos errado.
E a Geralda na mão. Desligada.
Quando o tempo passou e a gente já tinha rodado um mundaréu de vezes pela mesma rótula, decidimos juntos ouvir a Geralda.
Mas... nisso já tinha passado muito tempo. Como Barroso tinha nos dito que pelo atalho em 40 minutos a gente estaria lá, tomei todos os meus remédios de manhã, antes de sair do apartamento deles.
Aí é que foi o problema. Calculei que em uma hora estaria no local e teria um banheiro a minha disposição pois dois dos comprimidos que tomo fazem o corpo eliminar muito líquido.
Qual! Com a nossa "perdida" e agora ouvindo os conselhos da Geralda fomos parar num lugar ermo, meio fora de Belo Horizonte. De repente encontramos uma placa que dizia: Rio de Janeiro. Já pensou ?
Claro que na hora ficamos apavorados. Mas continuamos seguindo as ordens da menina. Mesmo porque não saberíamos prá que lado ir e já não tinha prá quem perguntar...
À noite, quando retornamos ao apartamento dos amigos, Barroso nos disse que a Geralda nos levou por um caminho normal prá ela a partir do ponto onde estávamos. E que o fato era esse: Ela não conhece atalhos a não ser que a gente já esteja dentro dele.
Como a gente tinha ido para o lado contrário de onde deveria ir... Então imagina onde fomos parar...
Mas o pior era eu. Naquelas alturas precisava urgentemente de um banheiro. Não agüentava mais. Minha bexiga já começava a doer.
Mas nada de encontrar um posto de gasolina ou algo parecido. Não tinha nada.
Afinal percebemos que estávamos voltando para o centro de Belo Horizonte com as dicas da Geralda. Graças a Deus, a mulher sabia o caminho mesmo...
Só que...
Paramos no trânsito... A fila não andava. Digo, as filas. Eram três indo e três voltando... Paradas. Não se moviam. Nenhum centímetro. De jeito nenhum...
E eu em desespero. Querendo parar na primeira moita que encontrasse pela frente de tão urgente que era a situação.
E nada. A fila engatinhava. Dois metros. Um metro. Meio...
Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Tentavam brincar comigo, mas não tinha jeito. Já estava com tanta dor que não conseguia controlar o choro. Precisava urgente de um banheiro... Nem me mexia no banco para não acontecer um acidente.
Já tinham se passado mais de duas horas desde que tinha tomado o medicamento. E já devia ter tirado água do joelho umas duas ou três vezes nesse tempo...
Por fim, além de chorar, comecei a gemer de dor. Não conseguia mais me mexer, nem querendo... Parecia uma estátua chorando. Só as lágrimas se mexiam...
Então... salvadoramente apareceu um posto de gasolina... Simples, pequeno, meio antigo... Mas... A salvação.
Estacionamos direto para abastecer, que naquelas alturas, enquanto eu acumulava líquidos o carro os perdia...
Ajudaram-me a sair. Mal conseguia andar.
Um frentista passou e pedi onde ficava o banheiro feminino. Apontou-me com o dedo.
Virei-me e tentei ir lenta e curvadamente naquela direção. Foi quando vi um imenso cadeado na porta.
Parei no meio do pátio do posto e perguntei ao mesmo rapaz se tinha de pegar a chave lá dentro. Disse que sim. Implorei para que alguém a pegasse. Não conseguiria se tivesse de ir...
Então... o moço voltou:
- Desculpa senhora, mas agora me lembrei. Não há como usar o banheiro porque ontem um colega levou a chave do cadeado prá casa, por engano...
Banheiro... Cadeado... Sem chave...
Fiquei em choque. Comecei a dobrar de dor ali mesmo. Achei que ia desmaiar. Senti ânsia de vômito. Fiquei tonta. As lágrimas escorriam e eu limpava com a mão. Achei que ia morrer...
Os rapazes do posto pararam suas atividades e foram se chegando ao redor do carro... estavam preocupados mas não havia o que fazer... Não tinha chave do cadeado...
Eu olhava em pânico, implorando ajuda. Já não conseguia falar... O carro sendo abastecido. Não dava nem prá arrancar à procura de outro posto.
Preparei-me para o pior... Você sabe... Isso, ali, no meio do posto de gasolina...
Fechei os olhos. Pedi à Deus um milagre...
Bem... então...
Alguém teve uma idéia:
- Usa o banheiro masculino.
Céus! Quase morri ao ouvir aquilo. Na frente de meio posto de gasolina teria de usar o banheiro masculino???
Mas... Era o milagre... No desespero...
Só lembro de ter dito:
-E se alguém entrar enquanto estou lá ?
Ouvi uma voz vindo de algum lugar me dizendo que montaria guarda na porta. Que eu poderia ir tranqüila. Ninguém entraria. De jeito nenhum.
Mas e como conseguir ir ? Movi uma perna... Outra... Passos de lesma... Curvada de dor... Não suportava mais...
Por fim, tiveram de me guiar pelo braço. Eu... devagar como uma tartaruga. Com muito cuidado para não acontecer nenhuma tragédia antes de chegar.
E... Meio posto de gasolina olhando...
E claro... Decerto apostando se conseguiria segurar até chegar lá ou não...
Afinal consegui... Meu filho entrou comigo, espiou, mas logo saiu.
E aí, outro obstáculo à vencer. O banheiro era um lixo. Uma sujeira só. Um cheiro mal de matar... Tinha de engolir seco e ir em frente ou...
Parei em frente de um dos box...
Ouvi lá forma, em tom de desculpa, a explicação de que não dava para usar o banheiro porque tinha uma mulher lá dentro...
Chocada vi numa enorme cesta, que os homens dali não usavam papel higiênico, mas pedaços de jornal rasgados... Impressionante...
Mas... Tinha de ir... Tinha... Precisava... Só que não conseguia me mover e tomar uma atitude. Nem pensar eu conseguia...
Fiquei ali, na porta, parada, tentando criar coragem...
E quase caí de costas quando percebi um vulto dentro do banheiro.
Meu Deus ! Não olhamos prá ver se o banheiro estava ou não vazio... E agora tinha um homem lá dentro. Que horror... Que vergonha...
Lentamente e vermelha como um pimentão, louca de medo, olhei, já me preparando pro pior... Você sabe...
Então o alívio. Era meu anjinho lindo e querido. Sabendo como sou enjoada, e por milagre “adivinhando” (por já ter espiado o banheiro) que ali não tinha e eu pediria, o anjo trouxe o papel higiênico que tinha no carro...
Pronto. Isso estava resolvido. Secar-me não seria mais problema.
Armei-me de toda coragem do mundo. Revesti de papel o vaso sanitário... E...
Mas... então... outra dificuldade. De tanta dor. De tanto segurar, agora que podia... não conseguia... Que sofrimento. A bexiga parecia que ia estourar. Sentia-me muito mal. Muito...
Pensamento positivo, como dizem...
Pensa... Concentra... Concentra...
Fiquei imaginando... torneira pingando, goteiras, pingos de chuva... as CATARATAS DO IGUAÇU...
... Enfim... afinal... UFA! CONSEGUI !!!!!!
Você não sabe o que vem a ser alívio de verdade se nunca experimentar a sensação que experimentei... Não... Você não sabe... Disso tenho certeza...
Quando saí do banheiro, parecendo um passarinho livre, leve e solto, não sabia prá que lado do posto olhar.
Todo mundo parado... Olhando prá porta do banheiro...
Decerto esperando prá ver como é que eu iria sair... Seca ou... Molhada...
Que situação...
E foi assim...
Bom... pelo menos agora... você sabe...
Sou mulher de parar meio posto de gasolina !
Maria
Enviado por Maria em 08/12/2010
Alterado em 08/12/2010