Maria
Prosa e Poesia
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Ela (III)
Hesitante contemplou a lua em meio às estrelas brilhantes. Nunca lhe parecera tão grande e luminosa, nem o céu tão aveludado.
Diante da beleza e grandiosidade do universo suas incertezas tão humanas pareciam insignificantes. E muito mais ao compará-las aos seus sonhos. Um à um eles invadiam seus pensamentos e num redemoinho de emoções transformavam-se num só. A intensidade das emoções que sentia desconcertou-a. Foi como se sentisse uma vertigem. Sem se dar conta do que fazia sentou-se sobre a relva macia. Com mãos trêmulas tocou as pequeninas folhas verdes. E foi como se sua mão percorresse lenta e suavemente as asas de um sonho - a pele do sol -. Deitou-se e fechou os olhos. Em seu interior o coração bradava descompassado. Olhou o céu violeta negro. Que imensidão. Se pudesse viajar por ele... se só pudesse... pular de estrela a estrela até encontrar o sol. Era um sonho... E queria aquele sonho. Ah! Como queria ! Nunca se sentira daquela maneira em sua vida antes. Jamais conhecera anseio tão forte. Nem sequer se soubera capaz de sentir tanto. Abriu os olhos para a lua que a fitava enigmática. Era como se pudesse enxergar sua alma, ver suas defesas, sua confusão, sua surpresa com a força e intensidade das emoções que sentia... O calor que percorria seu corpo era como uma carícia abrasadora... O céu estrelado parecia rodopiar ao seu redor... A respiração acelerada lhe atordoava... Então... acordou em si mesma. Deixara-se levar pelo sonho outra vez. Deixara-se navegar em suas ânsias novamente. Soltou um suspiro de frustração... E uma lágrima deslizou pela face agoniada... Sabia que seu destino era viver com o coração carregado de sonhos. E sabia que jamais voltaria a ser a mesma. Mesmo depois de quase tantos milênios os sonhos estavam lá. Ainda atordoavam. Ainda a faziam parar de respirar de tanta emoção. E a cada sentir, sabia que nunca tinha sido tomada por sensações tão intensas antes... Nunca desejara tanto. Reprimiu abruptamente os pensamentos. Prá que se machucar mais? O que desejava tanto assim? Um sonho que nunca teve? Uma chama que nunca viu? Uma luz que não podia ver, nem ouvir, nem tocar, só sentir? Um sopro de brisa que não podia acalentar, nem mesmo amar? Amordaçou os pensamentos e amarrou as palavras que ainda diria. A noite passaria e com ela o dia viria. Durante o dia era mais fácil esquecer. A cada manhã inalava o perfume das flores em pura apreciação e decidia-se a viver em prol da realidade que a rodeava. Mas, à noite, no escuro, a alma voava... Lembrava-se de um céu brilhante e uma lua deslumbrante roçando uma montanha faiscante de mistérios. Lembrava-se do que podia ser lembrado. Um olhar misterioso e romântico, um olhar perdido em sonhos... Olhar sonhador e envolvente que a inebriava e emocionava a cada vez que o contemplava. Um olhar que povoava seu dia, sua noite, seus sonhos... seus sonhos mais ardentes... sonhos impossíveis de se fazerem acontecer...
Maria
Enviado por Maria em 22/12/2010
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