Debruçada em Palavras
Andei pela sombra do tempo e me deparei comigo mesma em qualquer lugar. Reflexões que dizem de mim, de meu caos interior, subjugado ao eterno pensar. E o sonho eu incorporei: Agora sou fardo do tempo. Uma Maria Carmela dos Reis, encastelada no alto das montanhas e que de emoção, ouve calada diante da rede na varanda e de uma parede amarela de cor, as divagações de primeira página de um velho carpinteiro de palavras. Sempre foi assim. E nunca soube que era eu. Mesmo hoje disso não sei. E não há mais jeito de saber. Queria tanto ser uma floresta verdejante. Mesmo uma pequena rivana eu hoje desejaria ser. Não aquela de palavras, concebida e criada por mim – uma mariposa noturna e perdida da vida -, mas aquela borboleta colorida e doce que espia seus olhos e lhe sorri com a meiguice que se reflete de sua alma. Eu era assim num tempo que já nem mais me recordo. E enquanto a música toca um tempo clássico e sem fim, me debruço em escrever o que talvez sejam minhas últimas palavras... Porque minha alma não suporta mais o silêncio embutido numa melodia que substitui palavras. Preciso ouvir a voz dos grandes cantos para que eu mesma possa continuar a cantar. Sou pássaro aprendiz. Aprendo espelhada de azul numa voz inusitada e carregada das cicatrizes e matizes da vida. Essa voz se calou e meu espírito denuncia a ausência silenciando... silenciosamente... E caminho mansa e triste a vida manca, retornando o caminho que leva ao reino da mulher adormecida. - Não me deixe calar ! Não me deixe estátua nua escondida outra vez sob as areias do tempo. Não me deixe cair no sono profundo de onde tão braviamente me arrancaste com o sopro da brisa que o tempo como um beijo selou em teus lábios para me acordar... Não consegues perceber que estou adormecendo? Não me deixe. Por favor! Segura minha mão! Anda comigo mais uma milha de milênio de eternidade. Não quero morrer. Me ajude a viver! Eu ainda preciso muito viver! ... e se não soprares mais a herança de teu espírito em minha vida, adormecerei assim... como quando me encontraste pela primeira vez, fugindo pelos telhados de barro de tuas montanhas, embrulhada em meu próprio caos... flor e mulher, adormecida e sem palavras...
Maria
Enviado por Maria em 14/02/2011