quando eu tinha 5 anos, fui passar férias na casa de meus avós na colônia. minha avó me mandou procurar ninhos de galinha no pátio e trazer os ovos prá cozinha.

e lá fui eu com um chapéu na mão, catar ovos para minha avó. meu irmão foi junto. ele tinha 2 para 3 anos.

achamos um ninho de galinha debaixo de umas tábuas. estava cheio de ovos.

mas, não alcançavamos nenhum.

então eu tive a idéia de pegar um longo pedaço de pau e ir arrastando os ovos para fora do ninho.

dessa maneira quebrei vários deles e alguns que tinha conseguido trazer para fora, também estavam com a casca quebrada.

nisso chegou meu avô.

ele viu aqueles ovos quebrados no chão.
encheu-se de fúria e gritou como um louco:

- porque tu tens de ser tão mexerica?

então ele me obrigou a comer um-a-um os ovos crús.

e eu comi. chorando e com ânsias de vomitar fora, mas comi. fui obrigada a comer.

depois, ele me surrou com uma comprida e fina vara verde, que me deixou vergões nas pernas por muito tempo.

eu via a fúria em seu rosto e no resto de minhas férias tinha medo de chegar perto dele.

foi a imagem que ficou dele. em mim.

ele morreu dois meses depois de um ataque cardíaco e até hoje me dói na alma, que guardei essa imagem dele e não a imagem da pessoa querida, terna e amorosa que ele era comigo em outros momentos.

precisei me perdoar por isso também.

e eu cresci. e a vida me surrou várias vezes de forma mais forte e dolorida. ela me bateu com perdas, com dor, com sofrimento e pobreza extrema.

e ainda me bate.

mas eu cresci. não sou mais aquela menina que se achava má e merecedora de todos os castigos.

hoje sou uma mulher. e se até poucas horas atrás me lamentava ainda de tudo o que perdi, agora, aprendi a olhar para a imensidão de vida que ganhei de presente e muitas vezes não soube valorizar.

aprendi que no sofrimento há depuração e só purificados e despidos do egoísmo e pena de si mesmos, podemos usufruir da verdadeira felicidade e alegria de viver.

vi as pessoas que Deus me permitiu conhecer. vi o amor, quanto amor Meu Deus, quanto amor.

vi a bondade, a família, os amigos. e vi...

que sou uma mulher privilegiada. que sou mulher. MULHER. mulher de verdade. que sou mulher que ama e sabe amar e que faz doação desse amor cada dia de sua vida, independente do tempo, e do tempo do tempo.

"e deixe o vento levantar a areia de sobre os tesouros que são escondidos sob ela...

e as ondas do mar beijarem cada um de nossos pés e elevar-nos ao pedestal da vitória para recebermos o nosso maior prêmio: a VIDA!!!"