Maria
Prosa e Poesia
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Qual Pluma
A tristeza apertava o peito. Uma angústia sufocante. Um nó bruto e cortante fazia doer o interior magoado. Era impossível sentir-se mais infeliz do que já estava. O silêncio doia tanto, que atordoava.

Escondida no silencioso e escuro do quarto, buscou o caminho do leito para deixar explodir o choro convulso. Como que num filme, imagens atravessavam sua mente. As gargalhadas pelas brincadeirias, o riso da surpresa, o inacreditável do sofrimento imposto à máquina pela ausência de dois dias, os conselhos de viagem, a confissão hesitante, o aprendizado dos vôos devorado com ânsia, o desejo de ser asa igual... Uma a uma, as cenas se repetiam...

Mas então, o silêncio, o vazio, a dor, as loucuras, a insanidade de alguém que se perdeu ao se encontrar... as brigas com pás dos moinhos, a intempestividade das emoções conflitantes, as palavras duras... e mais uma vez, o silêncio de milênios...

E agora sua alma caminha entre as nuvens em que se transformaram os momentos felizes. Somente lembranças na memória. O resto, o tempo comeu. Nada mais ficou prá contar uma história que só teve inícios e fim, não teve.

Lembranças. É do que vive. E solitária, caminha entre elas. Vai de rua em rua à procura, mas não sabe mais o que encontrar, pois tudo ficou tão longe, tão perto, tão misturado e embutido dentro de si que não consegue mais separar um mundo de outro. Eles se aglutinaram.

E busca o lar. O abraço das lembranças, o alento do que era. E cada vez é como se retornasse a uma casa, um lugar, onde passara alguns dos momentos mais importantes de sua vida...

Mas, onde está a vida? Prá onde foi a vida? A vida que conhecera presente, agora era apenas lembranças em seu coração que não pára de amar... Mas para onde foi a vida que ama??? Onde está a vida que é metade da sua???

Sozinha, sente-se perdida, desnorteada. O que vai fazer? Para onde ir? Não tinha mais para onde ir. Não tinha mais forças para continuar. Nada mais tinha importância. Nada...

Ela se encolheu na escuridão dos lençóis. Chorou convulsivamente por muito tempo... Não sentia mais o próprio corpo. Parecia que sua alma ausentara-se e pairava no meio do caos, do vazio, perdida de si, sem saber como achar o caminho de volta...

E o tempo passou sem que percebesse... as horas caminharam silenciosas...

Quando as lágrimas se acalmaram, uma espécie de torpor, de resignação pela derrota lhe tomou o corpo. Permaneceu quietinha, deitada no silêncio escuro, com os olhos cerrados.

Sentia-se vazia como uma concha atirada à praia, depois de lhe roubarem a pérola... Uma concha pequenina e insignificante, que a água levava de um canto à outro do imenso areial da vida.

Uma concha perdida, sem direção, com o destino incerto... e a alma flutuando na espuma... qual pluma, para o silêncio da eternidade...
Maria
Enviado por Maria em 26/05/2011
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