aqui está ficando frio...
mas eu gosto do frio,
por isso, vou indo...
cada vez mais para o Sul.
vou embora... vou indo...
vou sim.
sem ninguém para me pedir:
- volta ! por favor, volta !

por isso, quieta, calada,
eu vou...
vou buscar o inverno,
ou ir ao encontro dele
- que está me chamando.
ouço o grito do vento
sussurrando:
- vem Maria !

então eu ouço e vou...
para aquietar minha alma,
sim, é por isso.
eu preciso ficar quieta
para sintonizar o meu pensar.
pois às vezes, o vento vem
e mexe e remexe...
e me atrapalha a sintonia.
sim, mas é momentâneo!
logo, logo, volto a sintonizar.

acredita ?

não devia...
eu já menti
muitas vezes.
não para os outros,
que nem sabem que falo
a verdade.
eu menti foi para mim mesma.

sabia que a maior das mentiras
a gente aplica na gente mesmo?
e a maior delas eu fiz quando
disse a mim e ao mundo
que tinha algo a dar à VIDA.
quando pensei que tinha algo
a contribuir... podia ajudar.
e que era alguém para alguém.

acreditei quando me contaram
sobre "o dia em que alguém
caiu numa vala profunda e foi
salvo pela bat-girl".
veja, nem ali eu fui MULHER.
fui uma girl, uma menina.
seria sina?

por isso, é a vida quem
tem algo a me dar.
a vida deve a mim, isso sim.
ela tem uma dívida
muito grande para comigo,
pelo fato de ter me colocado
a viver na terra.

eu sei como é a terra.
sou formada dela.
e sinto que cada dia,
um grãozinho de poeira cai
de mim... e fica perdido
na beira do caminho,
onde os corvos
fazem seus ninhos...
eu perco pedaços da terra
de que fui feita...
logo, logo, eu serei ela
outra vez.

totalmente !

espero ansiosa!
então quem sabe, as sementes
que plantaram em mim possam
estender seus raminhos
e brotar em lindas
e maravilhosas flores.
e eu poderia ser uma flor,
como sempre sonhei ser.
mas tenho que passar
pelo sofrimento da semente.
e esse é o sofrimento da semente...
o sofrimento é filosofal.
a dor é estrada.
e o fim, é um caminho
só de idas para a descoberta
da imperfeição!