Armário do Esquecimento
Fecha os olhos para as cores vibrantes ao seu redor. A luz não lhe cabe mais dentro do peito. Só o silêncio da escuridão tem lugar cativo entre os vãos do seu espírito.
Captura com gana e enfia no armário do esquecimento, cada uma das palavras pessimistas que ela mesma se disse. Em seguida faz o mesmo com a dor de ver a porta que acabou de encontrar, fechada com ferrolhos de aço inquebrável.
Com dedos decididos pega a imagem do rosto que nunca viu e rasga em mil pedacinhos. Ateia fogo às inexistentes cartas de amor que recebeu.
Fogos de artifício vermelhos e amarelos explodiam na escuridão atrás das pálpebras, quando trancou a porta imaginária e jogou a chave num poço profundo e escuro.
Bloqueou o pensamento como foi impiedosamente bloqueada no suplemento de vida que saciava sua sede milenar.
Então, viu a montanha abraçada pela névoa... Desgostosa e desesperada, cogitou porque ela ainda insiste em esgueirar-se para dentro dos seus sonhos e pensamentos se não lhe deseja em suas terras e trilhas interiores.
Está cada vez mais difícil ignorar a dor. Em sua vida ela tem o dom de cobrar todos os tributos de uma só vez.
Derrotada, tenta reter as lágrimas, mas uma escapa e desce ardente dos seus olhos em chamas.
- Nada disso! - repreende-se interiormente. - Não vai chorar agora por causa de uma pedra que não sabe o que é amar!
Dito isso, abre os olhos... Corre à boca do poço escuro. Atira-se ao fundo. Cega pela dor e saudade, com as mãos em soluços, tateia na lama até encontrar a chave enterrada no fundo.
Em ânsia frenética, busca no imaginário a porta do armário do esquecimento. Coloca a chave na fechadura. Gira com força e a porta se abre num estrondo.
Sôfrega, a alma febril, recolhe os pedaços de papel que rasgou e com beijos molhados, cola um à um, até ver surgir a face amada diante dos olhos...
Quando o coração ama, ignora a dureza da rocha e o achego da incerteza e da desesperança...
Maria
Enviado por Maria em 14/06/2011
Alterado em 14/06/2011