Neste tempo em que fiquei longe,
pensei muito em como é o meu dia.

Meu dia é:
Ver as janelas do tempo
com imagens sem voz.
Hoje nem imagens vi.
Ouvir canções do passado,
canções cantadas a quatro milhões
de anos e feitas não sei para quem.

Receber ralas e cada vez mais raras
visitas em minha casa.
Mas vejo que de mim
é exigido falar e falar.
Sinto sempre uma urgência
em que eu fale.
Mesmo hoje o vento me disse
que sentiu saudades em me ouvir.
E eu?
Por que tenho de viver somente
com as vozes de ontem?
Quando ouvirei o vento
falando no tempo de hoje?

Quero mais da Vida.
Quero o vento, seja ele de tempestade
ou suave e sereno, me visitando
em minha casa todos os dias,
o correio trazendo cartas diárias
para matar a saudade de quem está longe.
Quero imagens do sol que brilha no universo.
Quero ouvir as canções de hoje,
ver e ouvir o jardim dos sonhos.
Quero mais da Vida.