Sempre me achei diferente. Sempre me achei esquisita ao lado das estrelas do céu, dos deuses eternos do recanto de luz. Talvez antiquada, medieval... quem sabe até uma mulher das cavernas, das profundezas da terra, surgida, nascida assim, do nada, ao toque da varinha mágica de uma fada. E esse sentimento me levou a querer ser igual, fazer parte. Por isso o procurar desesperado, a fome de luz. Mas não consegui. Eu devia saber ser impossível. Afinal não sou um deles, sou eu. Mas, nesses momentos, sentia-me assim: por não conseguir, impotente, pequena, fraca. As palavras, me parecia, perdiam seu valor, seu sentido, quando eu tentava imitar a arte. Assim como me parecem ocas e vazias, para expressar a intensidade dos meus sentires. E, neste tempo todo, nestes cinco milênios de estrela, sentindo-me sozinha, abandonada, precisando de ensinamento, de luz, não conseguindo conciliar minha vida com as descobertas que fazia de mim a cada dia... me perdi. Deprimia-me com facilidade. Colocava peso demais nos momentos difíceis e me afundava no mar de minhas próprias lágrimas. Fazia tudo errado. Brigava, gritava, batia o pé, entreverava e deixava o dengo e a teimosia me dominar... Acabava indo ao chão. Mas, assim como caia, num tempo imediatamente depois, com força sobre humana, me levantava. Eu sei que essa força vem de Deus... Eu sei. E isso, eu queria também compartilhar. Os momentos sofridos, difíceis, doídos e os momentos de vitória. Tudo. Acho que eu me sentia como sendo uma alma-farol. Acho que queria ser como um, para que os outros não precisassem passar pelas mesmas dores que passei. Para que vivessem a festa da vida que eu vivia em meus outros extremos. Que pudessem, ao me ler, sentir tanta ou mais emoção do que eu conseguia exprimir com minhas palavras. Talvez me achasse assim, porque acreditei demais nos sete trabalhos de maria. Agora... não sei... talvez acredite no eco do silêncio que faz voz em minha vida já calada...