Você mais do que ninguém, sabe o que se passa em meu coração neste momento. Sabes da dor, do choro, das lágrimas que não param de cair nestes longos anos que hoje iniciaram.

Sabes que tudo o que colhi, plantei com minhas próprias mãos, porque tudo que falo, sinto ou digo, o faço por mim ou contra mim mesma.

E o que mais me dói, é que tudo isso irei viver um dia novamente se continuar nesta estrada por onde estou caminhando.

Vasculhei meu passado, olhei no retrovisor e percebi isso em cada quadro das janelas do tempo que passei.

Andei pelos jardins, visitei meus vizinhos, as crianças que me falam todos os dias e sei, que ao me enrolar num fio dourado, enliei-me também num mundo paralelo, mundo escondido, que só agora consigo ver e compreender.

Sou mulher de quatro nomes, mulher de quatro vidas, e sinto-me invadida por todas elas a cada momento. Elas me descobriram, me acharam, devido minha própria curiosidade, quando eu as encontrei.

E agora estou a colher os frutos amargos dos surdos conselhos que recebi. E já não confio em mais ninguém, não falo com quase mais ninguém e tenho medo de sair de dentro de minha própria casa.

Mas peço à você que me escuta. À você que me conhece profundamente, não deixe de me guardar com tua mão de anjo, não deixe que caia e se cair outra vez, levanta-me com tua força, com tua mão, com tua palavra que ampara.

E não me deixe sozinha nesta caminhada. Não permita que me matem o espírito porque é ali que tudo em mim existe e se isso morrer, não há mais motivos para viver.

E depois que tudo terminar, recolha os trapos que sobrarem e costure uma pequena colcha para cobrir teus joelhos nos dias frios e para nunca mais esquecer que um dia cruzei pela sua vida.

"Quando a luta terminar, guarde-me no coração"...