Maria
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Duas Vidas, Um Coração
Os trovões eram ensurdecedores, mas, não tão violentos quanto o silêncio que se fez dentro de mim. Tudo pairava quieto e silenciosamente à iminência do caos. Um caos que crescia e que eu já conhecia os efeitos.

E senti aos poucos o caos instalando-se, mas não me importei. É justo nele que minha alma se revela. É justo no caos que me encontro. É justo no caos, que o início finda a morte e renasce, para mais um viver alucinado.

Pensei no sol, que todos os dias, caminha tão longe e quieto no universo do céu. Tão longe. Tão calado. Já não posso mais vê-lo com os meus olhos. Eles perderam a visão. E a chuva cai profusa embaçando todo e qualquer olhar.

Então, vi-o se aproximar de mim com sua luz, pelos olhos dos sonhos. Senti seu calor em minha pele. Isso eu podia sempre sentir. Cada dia e cada noite seu calor, seu toque perambula em mim. E senti outra vez queimar em chamas que incandesciam os meus sentires, as minhas ânsias sempre guardadas em chaves e grades que eu mesma me construía. Mas, ao seu toque, a alma inflamou-se e me deixei levar, tomar, sugar pelos sentimentos, libertar o querer por entre as barras de ferro que me prendiam. E tudo se fez... o caos, avalanche de sentires... tudo se fez.

Uma alegria selvagem invadiu-me por dentro. Não conseguia saber o que sentia. Era outra vez algo novo, diferente. Como uma festa que se fazia. Estouravam balões, a música vibrava em cada corda do meu corpo, ensurdecendo os trovões. E tudo rodava e rodava enrolando-se aos confetes e lantejoulas coloridas. Formava-se um furacão... um tornado.

Os sentimentos foram sugados por esse tornado, onde a calmaria interior era uma paixão avassaladora, uma vontade louca de querer amar e falar de amor. Era como se um mar gigantesco, caudaloso, de ondas que iam e vinham, me banhasse cada centímetro escondido, cada recôndito do ser.

E o sol, enlouquecido, caminhava em mim, ardendo vida, ardendo sombras que se desfaziam ao seu toque.

- Mas ainda existem sombras? lembro que balbuciei atordoada.

- É preciso tirar as vendas dos olhos e ir além da superfície das coisas, sussurrava o sol.

E eu, pura emoção, queria tirar as vendas, queria ir além da superfície, queria partilhar sentimentos que são fortes demais para serem postos em palavras. São indescritíveis as sensações.

E por entre os olhos semicerrados, via o sol, que sorria como sempre desejei, feliz, vibrante, livre de restrições, a alma em evidência como um cálice de alegria pura, derramado dentro de mim.

- Me ame e jamais me deixe partir, me sussurrava ao ouvido. Quero pertencer a algum lugar, encontrar a identidade que perdi, sempre busquei e nunca encontrei até hoje. Quero ficar aqui, em ti. Aqui, dentro de ti, tudo tem uma escala diferente de sentir. Um padrão próprio para os meus próprios desafios. Eu me acho em você, eu me encontro em você, me torno você, e ainda assim, tenho a sensação de que nada mudará, de que sempre continuarei a ser eu e você continuará a ser você, como se fossemos um. É bom estar livre das algemas do medo porque posso ver as coisas como ela são...

Então minha alma se abriu e dela brotou o amor em toda sua essência:

- Só quero amá-lo por toda minha vida. E amá-lo é amar o que fez de você ser o que você é. Amá-lo é amar o seu mundo, amar suas coisas, amar o que fazes. Por isso minha busca incessante por ti. Por isso minha alma clama pela tua. Minha existência antes de te encontrar era como um punhado de terra na mão. Não é sólido, escorrega por entre os dedos e nada consegue mantê-la junta. Mas a terra se faz barro nas mãos do amor, e se deixa moldar, e se deixa fazer um só ser... Eu em ti, tu em mim. Duas vidas, um só coração...
Maria
Enviado por Maria em 06/09/2011
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