eu sei o que é ganhar.
porque aprendi a perder
e sei o que é perder,
porque não aprendi a ganhar.
desço mais do que subo,
subo menos do que desço.
também encalho no alto dela,
- da escada - ,
ou no primeiro degrau,
com medo de subir.

quando subo,
- às vezes -,
resolvo descer
pelo corrimão.
então eu sou criança
que ainda
não aprendeu a descer,
ou teve medo,
de lá para o alto subir.

a maioria das vezes,
eu só quero ficar parada.
com medo
de tanto subir
e tanto descer.
são muitas escadas.
elas assustam,
porque não consigo todas
compreender.

e já subi tanto,
e tanto mais tive
de descer.

eu olho para o alto
e vejo para onde quero ir.
mas, é tudo tão longe, tão distante.
tudo parece tão pequeno
para que meus olhos
possam vislumbrar com clareza.
eles quase não
conseguem mais ver
nem o meu sonho.
e nem sabem mais,
se vivo lá está.

está vivo aqui,
dentro de mim.
mas e lá?
no alto da escada,
como será que estará?

não há mais como saber,
nem chorando, como agora choro.
não há, porque o meu sonho,
não mais aparece
no alto da escada,
não brilha mais
no céu de estrelas
como brilhava antes
- todos os dias.
agora, ele se esconde,
atrás do topo da escada.

eu preciso subir lá,
mas tenho medo
de subir demais.
porque tenho medo,
de muito descer outra vez,
se precisar descer,
como sempre precisei.

por isso, sempre teve
um escorrega de criança
no topo de minha escada.
porque cada vez que cheguei lá
eu me descobri pequena
diante da imensidão do sonho.
ou o meu sonho
me achou pequena demais.

e tive medo,
ou tentei adentrar
com muita ânsia
e me estabanei toda,
me perdi,
me desencontrei.
outras fui
desencontrada,
ou deixada lá,
plantada no último
degrau, esperando
um convite para entrar.
mas o sonho
virava as costas
e ia embora...

e então ficava
vendo ele ir embora
assim... assim...
simplesmente...
indo embora.
prá longe de mim.
então eu descia
pelo escorrega,
pelo corrimão.
prá me sentir criança,
e ter coragem
para recomeçar a subir.