Aconchego da Alma
Cruzando os braços sobre o peito, reclinou-se contra a parede fria da casa e ficou olhando pelas janelas.
Uma brisa gelada a fez aconchegar-se mais a si mesma. O frio parecia penetrar em seus ossos. As lembranças ainda eram vivas... alegres, felizes e dolorosas.
Ouvia o som das vozes, da música e sentia o cheiro do pão quente... que desvaneceu-se no ar...
Com um suspiro, endireitou-se e passou a mão pelos cabelos desgrenhados que já estavam pelos ombros outra vez.
Olhou mais uma vez pela janela. Agora vendo o mundo lá fora.
Uma enorme castanheira, com os galhos secos e estendidos em todas as direções ocupava todo o vão que ela podia ver.
O mundo lá fora continuava a girar, independente de ter parado no passado em seu interior.
Com a mão secou as lágrimas que deslizavam quentes pela face. Sentimentos misturados, se confundiam...
Tinha de ir. Como o tempo tinha passado. Meu Deus! Como o tempo tinha passado. E nem percebera...
O sol entrava pelas frestas das táboas do velho casarão deixando listras no chão batido que rangia sob seus pés.
Caminhou para a porta aberta... desceu os degraus um à um...
Ninguém nas redondezas. Somente ela, o céu azul e o vento gelado...
De olhos fechados, parada na imensidão que dançava ao seu redor em cores e sons, sem medo, atirou-se no colo de seu sonho.
Ali, com a alma aconchegada no calor dos braços feitos, era para sempre, o seu lugar.
Maria
Enviado por Maria em 17/09/2011