Era Uma Mulher
Amanheceu ensolarado. Mas nuvens pesadas acumulavam-se no horizonte do outro lado do céu azul.
Revivendo as emoções do passado, aproximou-se da porteira, e viu que ainda era a mesma.
Apoiou as mãos e subiu nos troncos de madeira. Sabia que a porteira estava ali pelo mesmo motivo das placas proibitivas, porém, não tinha a menor vontade de obedecer as regras naquele momento. Desconfiava que nascera pra invadir propriedades alheias. Não fora isso que já fizera num passado bem perto?
Ainda dizia a si mesma que a idéia de voltar àquele lugar era para terminar a peregrinação ao passado que iniciara há tanto tempo atrás e que já revelara em tantos e tantos pedaços de papel, nas páginas de sua vida.
Talvez se enfrentasse as lembranças do passado mais uma vez, elas parassem de atormentá-la. Coisas não resolvidas...
Lá do alto da porteira lembrou-se menina: subia os troncos da porteira e fingia ser uma princesa, rainha de um reino encantado, encravado bem no meio de uma imensa floresta. Os animais que pastavam pelos potreiros eram seus súditos. Curvavam suas cabeças em sinal de respeito à sua rainha.
Sozinha, deixou escapar o sorriso diante das lembranças. Meneou a cabeça como que para espantar sonhos inocentes de criança.
Olhou o céu que agora, passado o tempo, se apresentava na manhã. Pássaros cantavam. O mundo tinha vida e essa brotava em sua alma...
Saltou de seu pedestal de troncos velhos e abandonados. A porteira já não era tão grande e tão alta como a julgava quando era pequena, o vestido de chita lilás, as tranças douradas, de fitas vermelhas, soltas ao vento.
E a descoberta:
Era uma mulher agora. Já na meia-idade. Mas, bem sabia, uma mulher que não deixava de ser menina. Uma mulher que ainda sabia sonhar. Uma mulher que continuava a construir castelos no ar...
Maria
Enviado por Maria em 03/10/2011