Anisete
quero a poesia
que me cala
em lágrimas
de apartes.
livre de etiquetas
e brumas de antolhos.
que dá nó no peito
e tudo pára...
mas, faz navegar
o espírito anum.
quero a poesia
que não diz,
mas, calada fala,
- apocalíptica e nua -,
com dois sentidos,
sem rumo certo.
dois caminhos,
sem ter nenhum.
uma poesia que baila,
faz barulho, estrala.
na alma ressoa,
muda, gritante.
como dois tambores,
- vulcões enormes,
gigantes -
parecendo
somente um.
quero uma poesia onírica
que não se rende
à cela e à prisão,
que seja aurora
na hora do ângelus,
se anela de fogo
em águas barrelas,
pobre ou rica.
perfumada de aniz
ou, ... bodum...
quero a poesia assim:
saída de mim,
do meu abismo interior,
dos vãos do meu espírito
que se confunde com o teu.
sem lápides do dia,
revestida de tropo...
quero-a qual
mágica de palhaço,
sussurros de cabrum.
quero-a despida
das lingeries
que a moda calça,
sem o fardo das cercas,
que a amarram
em limites
que eu não construí.
e que seja sempre,
curiosa e traquinas,
como seu final,
sem rima.
tonta - sorri -,
de bebum.
quero a poesia
que seja tudo ou nada,
seja muito,
sendo sempre,
e pouca.
que seja tecida
de antanho,
num tempo
como hoje,
amanhã, ontem,
- estranho - .
quero-a anisete,
desvairada e louca !
Maria
Enviado por Maria em 28/10/2011