Observo as crianças no jardim. Brincam sem temor sobre o tapete de sonhos. Não sentem medo de flores. Não margaridam tragédias pessoais, nem verbenam temporais sobre suas cabeças. Choram quando caem e se machucam, mas logo levantam e recomeçam a brincadeira como se nada tivesse acontecido. Não se entregam nem quando estão doentes. E, nem mesmo sonolentam quando as coisas ficam mornas, o mundo fica cinza, coberto de névoas e os dias ocos e todos iguais. Elas sabem ser elas mesmas em meio ao mais completo caos. Tudo é motivo para viver com alegria. E apesar da bagunça que fazem, se entendem, se compreendem... Queria ser assim. Queria ter esse sorriso de criança estampado na cara. Não ficar brava ao perceber que a sinaleira está vermelha, está fechada para mim. Não ficar triste por ter de ficar quieta quando queria tanto poder falar. Não desanimar ao ver os sonhos se distanciando...  Não chorar porque o carteiro passa, os cães latem, mas só chegam notícias de outro mundo... Por isso, observo as crianças no jardim... Não margaridam tragédias pessoais e nem verbenam temporais sobre suas próprias cabeças...