Para Onde Nunca Estive
Amanhã é outro dia. Por isso, hoje, sigo mansamente a estrada à minha frente. Caminho sem destino e sem direção. Deixo meus pensamentos me levarem... para onde eles quiserem ir...
Vou para onde ninguém vai. Vou para onde nunca fui. Vou para onde é o meu lugar... Vou para onde nunca estive...
Sigo! Sempre em frente! Sem medo de caminhar.
A estrada é longa e posso ver ao largo os marcos do tempo. Marcos que deveriam indicar o caminho aos transeuntes desavisados. Quem sabe eu os tenha visto, mas, não percebi que tentavam avisar para não ir adiante...
Vejo, com tristeza, as escuras nódoas deixadas pela mão do homem na natureza. A flor morta na beira da estrada.
A noite... que chega lentamente - tingindo o céu de azul escuro - diz que as estrelas e a meiga-lua adormeceram para sempre... no dia que a elas não mais pertence... nesse dia... que a elas... não mais pertence...
Contemplo o horizonte de luzes. Lá ainda posso ver um feixe de luz a rebordar o dia que se finda. O sol dança com laços dourados nos campos de flores mortas. E mansamente vai adormecer nos braços da noite para amanhã surgir em outro dia. Novo dia de vida na cidade de cimento e pedras de cor.
As estradas se cruzam em várias direções. Não sei qual caminho tomar. Olho para trás. Sensações estranhas tomam conta de meu ser. Conturbam meu espírito. Parece que levo comigo uma vida que não é minha. E parece que deixei um pedaço de mim em algum lugar. Preciso encontrar essa parte que me falta. Preciso devolver a parte que pertence a outro ser e que estou levando comigo...
Procuro na mochila minha bússola de mão. Ela aponta o caminho da vida. Devo seguir em frente. Minha vida está lá adiante...
Me olho em todas as direções, e na necessidade de me sentir completa, mudo bruscamente o rumo de minha caminhada. Sigo à direita de minha vida. Para o lado de onde deveria estar vindo. Para a direção de onde deveria estar voltando.
Por que vou para lá? Para deixar a parte que não é minha. Para devolver a parte que levava comigo sem licença e sem permissão. Pertence a alguém. Com ele deve ficar. Por que vou para lá? Para me buscar. Quero me encontrar e me trazer de volta prá casa... Assim fico completa.
Eu vou, vou me buscar... lá onde ainda estou... diante daquela sinaleira solitária... na contramão da vida... olhando a montanha abraçada pela névoa... sim... vou me buscar...
E, ao chegar lá... com coragem vou dizer:
- Vim me buscar... antes de voltar prá casa!
Maria
Enviado por Maria em 24/08/2012
Alterado em 24/08/2012