O Último Beijo
É assim que me sinto hoje: enevoada e triste. Como a montanha envolta em nuvens de algodão. Nem vejo as hortências azuis que balançam seu perfume em minha janela ou os raios de sol que cristalizam ouro em minha face atordoada e nebulenta. Tudo some em meio às ondas de saudade que aportam no coração. É uma dor que me atravessa o peito, da qual não sei falar. Rasga e consome, atordoa e deixa sem ação. Tantas perguntas se fazem nascer: por que precisamos ficar olhando, encurvados de dor, encurralados em sofrimento, nossos queridos partirem um a um? Nem sempre consigo compreender, embora lute para aceitar. É injusto isso. São nos dados, ou somos dados a eles, para amar e sermos amados, e no entanto, um dia, sem aviso, sem qualquer mensagem de preparo, a morte vem e num desbote de dor, lança sua cega e surda adaga, carregando-os para longe de nossos braços de amor. Não fossem as lembranças queridas creio que não sobreviveríamos. A ausência grita a dor da separação eterna. É por isso que hoje me sinto assim: enevoada e triste. O beijo na face pálida e sem vida ainda fere e dói em mim.
Maria
Enviado por Maria em 04/04/2013
Alterado em 04/04/2013