Passeio noturno
Em pensamento percorro
todos os cômodos da casa,
menos um, sempre fechado
a chaves e cadeados.
Não há como entrar.
O que será que tem lá dentro?
Lá nunca entrei
e nunca vou entrar.
Tenho medo do que possa encontrar.
Com certeza é lá que está
o verdadeiro eu,
quem é a pessoa de verdade.
E isso tenho medo de saber.
Isso não quero saber.
Prefiro assim.
Lá deve estar a verdade
estampada nas paredes,
pendurada no teto,
tal qual luzes à piscar.
Deve ser um canto escuro,
onde não há luz,
cheio de vãos.
Lá não quero ir.
Nestes anos todos,
sempre me perguntei
que cantinho era esse.
Quase todos moradores
da região tem um parecido.
Mas eu não tenho.
Não quero ter mais nada
escondido dentro de mim,
embora ainda tem muito
que devia sair dali.
Mas para entrar,
não preciso de chaves
e cadeados de abrir.
Já chega ter vivido
tanto tempo presa
dentro de mim...
Maria
Enviado por Maria em 17/04/2007
Alterado em 17/04/2007