Estampado da Janela
A música ecoava dos enormes alto-falantes para as alturas e planícies da cidade. Eu, quietinha, olhava o tecido estampado com flores gigantes, coloridas e vibrantes, das cortinas da janela e derramava lágrimas por tristezas que ainda nem sabia existir. Não tinha como assistir às matinês e, muito menos (devido à idade) às sessões noturnas do cinema. Mas, a cada filme, a cada sessão, quando cerravam-se as portas, os alto-falantes do lado de fora, tocavam absurdamente alto: ABBA, Bee Gees, A-Ha (lembra?), Beatles, Roberto Carlos, música clássica, romântica... e... O peito doía emoções... Em meio à ausência de tantas coisas, recebia um presente só meu... E ficava imaginando se havia outra menina, em algum canto da cidade, com um nó no peito, a alma em ebulição... Eram minhas as tardes e noites daqueles tempos... As matinês de sábado, faziam meu dia, do lado de fora do cinema, virar domingo. A música tocava e me elevava às nuvens. Eu, quietinha, olhava o tecido estampado com flores gigantes, coloridas e vibrantes, das cortinas da janela, e derramava lágrimas por tristezas que ainda nem sabia existir...
Maria
Enviado por Maria em 25/04/2014