É mais fácil falar do passado do que do presente. Até porque ele nos imprimiu marcas indeléveis na alma que até hoje nos são caras, que fincaram raízes profundas em nosso coração. Também temos facilidade em recordar as grandes tragédias de nossa vida, as perdas cortantes e doloridas, as mortes que nos feriram, os amores que nunca tivemos, os sonhos que jamais realizamos. É-nos tão fácil lamentar do ontem. De tudo que nunca tivemos e do que, inertes e paralisados, nunca conquistamos. E o presente? Por que temos dificuldades em falar dele? Pode ser que nos é difícil porque acordamos todas angústias e sentimentos que nos assolam e que tentamos esconder dos outros e até de nós mesmos. Quantas vontades incompletas tomam a alma? Quantas perguntas sem respostas que não sabemos lidar? Quantas insones madrugadas, sonhos de céu sem mais possibilidades de horizontes para em tristeza nos mergulhar? E aquela sensação de abismo que sufoca o coração? Da saudade cravando bandeiras na alma? Como falar dela sem dizer dos profundos sentimentos, das manhãs e noites de areia e deserto que choramos e que no silêncio e solidão são o cotidiano da alma? Na verdade, na verdade meu amigo, temos medo é de nós mesmos. Medo de nos entregar à vida e à caminhos que precisam ser erguidos a cada passo dado. Não sabemos pegar o presente que a vida nos entrega a cada nascer do sol, a cada entardecer de sintonia, a cada hora do ângelus do amor. Não sabemos ser felizes... apesar das nuances de cores que a vida nos desenha a alma... temos medo... preferimos fugir do profundo de nós mesmos... e viver de superfícies e das cismas, perdas, tragédias absurdas, passado de mortes e desesperança... que mergulharam nossa vida em dor...Penso que é hora de não olhar pra trás. De seguir em frente. De aceitar o presente que a vida nos entrega diariamente. De viver o tudo que somos, o tudo que sonhamos, que pode fazer de nossos caminhos pétulas vivas, puras e verdadeiras, aveludadas de amor...