Olhos Fechados
Também vejo melhor de olhos fechados, mas não é no silêncio de uma voz que me ouço mais. Sei que só sei contar das ervas daninhas do meu jardim. Dos tempos de lavar roupa na tábua e encerrar o chão dos outros. Sei que só sei falar dos cardos e espinhos da minha alma. Das dores da infância, das bonecas que não tive, de não ter brincado com os índios, de só ter espiado a vida pela vidraça da janela da casa da minha avó. Sim, sei que só sei contar das coisas minhas e não ouço as coisas tuas que você nunca quis me contar. Eu também já tive um jardim que eu pensava que era meu. Nele uma casa de janelas e portões que podiam ser abertos no entardecer do dia. Também julguei ser dona de campanários que soavam a quilômetros de distância e que eram um sinal de que ainda podia chamar e era ouvida. Também me achei dona das cores azuis de uma melodia que toca em catenas tão, tão distantes, mas, tão perto de mim. No entanto... nessa ausência de "viagens" descobri.... que não sou eu a visita que chega no entardecer e tem o poder de levar o sol para um reino de ostras e lumiares... Que não sou dona de nada, nem do sol, nem da sua luz... nem das mãos que sua luz diz estar, mas, não sabe se de fato está... porque tudo tem dono... até meu coração... E não sou eu. Eu? Sou dona sim... de grandes ausências e doloridas saudades...
Maria
Enviado por Maria em 02/10/2014
Alterado em 02/10/2014