Já é primavera e eu nem vi. Só vejo o tempo, nublado de lágrimas, dores, tragédias e perdas. As folhas caem amareladas da árvore do jardim. Percebo a morte rondando definitiva o calendário da parede. É o presente que sempre chega nos novembros da vida. Hoje o presente do silêncio. Amanhã o castigo de seu eco. O tempo é meu carrasco e me ilumina de tristezas. Por isso... as andorinhas não voam mais em meu peito e as estrelas se escondem de minhas retinas. Minha alma segue vazia, insossa, destemperada, enquanto exponho minhas vísceras apodrecidas à fome do Sol. Vasculho o coração em busca do perdão que não me concedo. Sou culpada de minhas lágrimas. É que me dói a pedagogia da solidão. E o silêncio inflama e mata. Queima a alma. É ele o marco definitivo e histórico que me condenou pra sempre ao caminho dos só sonhos e utopias... Já é primavera e eu nem vi...