Tempo Confuso
Já não sei mais. Já não sei mais. Não sei, porque não sinto mais em mim ter atingido o ápice, o cume, o centro do que quero dizer. E não sei mais como fazer isso. Foram mil e uma noites de tentativas. Um milhão de dias procurando. E passaram-se os tempos. Já são quase dez milênios de tempo. Dez milênios. E me deixei tontear pelas avalanches de palavras que consideraram as minhas, vagas e dignas de morrer ou de se deixarem transformar, pensar. E a poesia calou tantas vezes em mim e outras tantas eu a fiz ressuscitar. Mas, não vejo que já consegui dizer o que gostaria de falar. Quando calcei estas sandálias elas machucaram os meus pés e feriram meu coração. Porque eu não sabia perder o que estava dentro de mim. Nem renunciar a sentimentos e desistir de estradas que só chegavam ao fim. Hoje vejo que aprendi a perder, aprendi a desistir de alguns caminhos e a renunciar a sentimentos que ninguém quer. Mas agora não sei mais o que fazer e nem para onde ir. Não quero deixar apagar minha luzerna, nem jogar fora o óleo do meu candeeiro. Mas não sei mais como manter minha luz acesa em meio a mais uma tempestade interior. Eu preciso que minha canoa volte e sei que devo amarrá-la ao cais para que não se perca nas vagas da tormenta. Mas ao mesmo tempo se trava uma luta dentro de mim. E o desejo de desistir se torna maior do que a ânsia de continuar adiante. Não é mais tempo de apanhar da vida. E mesmo que fosse a vida já me deu tantas surras que nem sentiria mais a dor. Porque nada dói mais do que a dor que sentimos em nosso interior. E muitas vezes nem sabemos porque...
Maria
Enviado por Maria em 15/12/2014