Vida Sombranceira
Olha só quem está falando,
a mulher acusando,
de ficar em casa,
tricotando, cerzindo meias,
ou então jogando pedra,
dizendo que é passeadeira.
enquanto ele fica o dia inteiro,
de pijama e chinelas,
sentadinho na varanda,
todo encarrapitado,
num copo de aguardente,
que a mulher só lamente
e o faça desse vício largar,
pois que a morte vai lhe levar,
- como todos morrem,
mas sofrendo mais -
se conseguir velho ficar.
Se não vivesse do trago,
talvez conseguiria idosar,
e assim a vida lindinha levar,
para viver a preferida,
nalguma casa da vida,
ou num lindo lugar,
- um jardim dos encantados -
mas ele prefere ficar,
de copo e garrafa na mão.
e ainda sem trabalhar,
enquanto a pobre
da mulher, vive
de labor em labor,
nas lidas da faina diária,
dando uma de funerária,
entregando jornal,
costurando solidão,
amargando mágoas...
Enquanto ele bebe,
ela pena de escrivão.
Fica quieto porque
não sabe o que falar,
e nunca falou na verdade,
foi uma mentira,
que pregou na coitadinha da mulher,
que caiu igual a uma pata,
noivou e ainda espera casar,
com trouxa de carregar,
cesto de vime, banheira,
fraldas, toalhas, mesa,
com novelo de lã, agulha,
roupa de passar e lavar,
arroz, pão, enfim...
cama, mesa e banho,
e tudo o que mais tem direito,
uma marido, guardião,
das chaves da gaiola de ouro,
que só abre prá velório,
funeral de parente, amigo,
- ou dela mesma...
onde a coitada da mulher,
presta serviço, a troco
de algumas moedas,
ou umas resmas de pão,
quem sabe uma barra de sabão,
praticando a profissão,
de uma feliz carpideira...
Mas que vida mais sombranceira!!!
Maria
Enviado por Maria em 19/02/2015