Maria
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Bater em Retirada
Sentindo na pele a névoa chorosa da água misturando-se ao ar, pensou que não era com desculpas que se derrotava a falta de vontade, o desânimo, a apatia intelectual que a abatia.

O murmúrio da água sobre as pedras era um bálsamo para seus nervos em frangalhos.

Dois fios de lágrimas escorreram por suas faces. A realidade que via nada fizera além de revelar a sua própria.

- Você não está desistindo - murmurava com sua própria voz o vento, tomando-lhe o rosto entre as mãos de brisa e enxugando-lhe a umidade dos olhos.

- Você está se retirando. Graciosamente. Não precisa mais provar nada a ninguém. Não precisa mais fazer nada por alguém que não quer. A única pessoa com quem tem que se preocupar é você mesma.

- A única pessoa com quem tenho de me preocupar sou eu mesma - repetia ela, perturbada pela dor.

Sua alma mergulhou em reflexões que iam e vinham como ondas. O cascatear da água sobre as rochas preenchia o silêncio que se fez, dispensando colóquios interiores.

Mas, as conversas, as reflexões interiores tinham o dom de trazer à tona o pior dela. O medo. O medo de perder o que, sabia, nunca havia conquistado de verdade.

Esse medo abria todas suas janelas interiores, disparava todos os alarmes e deixava em pane o seu íntimo. Era só um tempo e o caos se instalaria.

Precisava encontrar a paz de espírito. Precisava desesperadamente.

Como que pressentindo seu momento interior, uma rajada de vento desceu do céu atingindo-a. Estremeceu. Arrepiada de frio reconheceu que um novo campo de batalha crescia dentro dela. Sim, dentro dela. Era ali que travava as mais insanas batalhas com a vida e consigo mesma.

Mas por que fugia de suas lutas interiores? Do que tinha medo? Já não revelara o mais profundo dos abismos que a habitavam? Por que o medo em revelar mais esse?

Insone, na cama à noite, fizera essa pergunta centenas de vezes. Estava quase amanhecendo quando finalmente descobrira a resposta:

Ele a amedrontava...

Tinha medo de ter medo. O medo a amedrontava outra vez. Ou melhor, ela se amedrontava com as reações que ele provocava nela. Era tão reagente aos desmandos interiores. E sempre trocava os pés pelas mãos ao reagir impulsivamente...

Tinha medo de ter medo. E talvez era isso que a fazia se fechar outra vez. Tinha medo de ter medo e de revelar as profundezas da alma ao vento, único ser que parecia ainda permanecer ao seu lado...

E mais uma vez a voz:

- Você não está desistindo - você só está se retirando. Graciosamente. Não precisa mais provar nada a ninguém. Não precisa mais fazer nada por alguém que não quer. A única pessoa com quem tem que se preocupar é você mesma.

- Sim! A única pessoa com que tenho de me preocupar sou eu mesma... repetia-se surdamente...
Maria
Enviado por Maria em 21/02/2015
Alterado em 21/02/2015
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